João Guimarães: “A nossa concorrência principal são as mãos dos professores.”

João Guimarães é portuense de gema — nasceu, cresceu, estudou, vive e trabalha na Invicta. Fez a licenciatura e mestrado em Gestão e cofundou, com o Duarte e com o Diogo, a Intuitivo, uma EdTech que quer melhorar o processo de avaliação dos alunos e professores nas escolas. Gosta da vida de empreendedor, mas o que mais lhe custa é lidar com o stress diário. É um apaixonado por futebol — seja jogar, ver ou conversar —, foi no Boavista FC que deu os primeiros chutos, mas foi no FC Foz que tornou jogador. Chegou a ser o popular investor número 1 em Portugal numa plataforma de investimentos e foi em Erasmus, na Eslovénia, que “mais cresceu”.

O que é a Intuitivo?

Nós somos uma EdTech, ou seja, somos uma empresa de tecnologia de educação e o nosso objetivo é melhorar o processo de avaliação dos alunos e dos professores nas escolas. Queremos que os professores não percam tanto tempo em tarefas rotineiras e também que os alunos tenham uma melhor experiência e estejam mais motivados nos testes, fichas ou trabalhos de casa. No fundo, melhorar tudo o que seja trabalho de avaliação.

Então vocês integram a avaliação na vossa plataforma? Se eu fosse um responsável de uma escola, como é tu me apresentavas a Intuitivo?

A Intuitivo pode ser utilizada por professores e escolas para criar as próprias avaliações e permite fazer todo o processo de avaliação numa mesma plataforma. A Intuitivo permite a criação de conteúdos, ir buscar conteúdos já pré-criados, enviar e publicar testes online — assim como imprimir em papel, caso o professor prefira —, correção automática, dar feedback aos alunos, manter um historial ou uma base de dados organizada com os conteúdos criados por cada professor, entre outros. Resumindo, é uma plataforma centralizada onde eu, como professor, posso gerir tudo o que tem a ver com a avaliação dos meus alunos.

E o aluno? Como é que ele consegue ter acesso a esse conteúdo?

Há duas possibilidades: ou o aluno tem um login, com o qual vai ter acesso aos conteúdos que os professores publicaram para eles na plataforma; ou sem login, porque há escolas que preferem tudo através de links. Então, por exemplo, um professor pode usar a plataforma, publica o teste, recebe um link e envia-o para os alunos. Depois é só entrar, colocar o nome e está a andar!

É quase como se fosse uma espécie de uma drive ou um documento partilhável, não?

Exato! Inclusivamente, a plataforma permite a colaboração entre professores no mesmo documento. Assim, cada professor pode, e ao invés de ter uma ficha em formato PDF numa pen qualquer que se pode perder, ter o documento partilhado na nossa plataforma. Além disso, é possível criar grupos de professores — por exemplo, um grupo com todos os professores de Matemática de 10º ano da escola — e todos terem acesso às mesmas coisas e conseguirem partilhar todos os documentos de forma muito simples. Entre alunos é, basicamente, o professor criar as avaliações e, quando está satisfeito com o trabalho, envia aos alunos, eles entram no link ou fazem o login e respondem.

Ou seja, no fundo, centraliza tudo o que é documentos e papéis da escola.

Sim, tudo o que tenha a ver com a avaliação.

Além disso, a correção de algumas fichas ou testes também podem ser automáticas, certo? Isto vai retirar muito trabalho aos professores.

Sim! Nós brincamos e dizemos que a nossa concorrência principal são as mãos dos professores (risos), porque, infelizmente, a maior parte deles ainda corrige tudo à mão. Estamos em 2022, portanto, com as tecnologias que há…

Estamos em 2023, João! (risos)

Sim, 2023 (risos)! Pois é! Com as tecnologias que há agora não faz sentido não as estarmos a usar para isto. Portanto, parte da forma pela qual nós ajudamos os professores a poupar tempo é, também, com a correção automática, apesar de não ser a única.

São vários os processos num só, então?

Exato, exato. Substituímos várias plataformas numa só, de certa forma!

 Tinha sido construída à pressa e era necessário algo mais sólido, por isso deitámos ao lixo e fizemos a coisa do zero.

E então, como é que surge a ideia aqui da Intuitivo? Conta-nos um bocadinho da vossa história.

Nós, originalmente, somos três cofundadores: o Duarte, o Diogo e eu. A ideia surgiu, na verdade, do Diogo quando nasceu a COVID-19. A mãe do Diogo é professora — aliás, quase todos na equipa têm professores na família e é por isso que nos revemos na missão da empresa — de Físico-Química, se não me engano e, quando surgiu a COVID, acabaram as aulas presenciais e, de repente, viu-se obrigada a passar para o digital. Então, ela perguntou ao Diogo, que é engenheiro informático, se ele conhecia alguma plataforma que a pudesse ajudar. Ele pesquisou enão encontrou nada de especial, nem nada que fosse verdadeiramente útil, por isso respondeu à mãe: “Dá-me uma semana” (risos). E ele próprio criou a primeira versão da plataforma — uma versão beta — e, a partir daí, a mãe dele começou a usar. As colegas e os colegas da mãe dele gostaram e também quiseram usar e depois veio a Direção da escola, que quis comprar para o Agrupamento de escolas todo (risos). Então, foi o melhor teste possível, porque tivemos imenso feedback e isso permitiu também validar a plataforma. Aliás, a COVID ajudou muito as EdTechs e ajudou muito a educação e as escolas portuguesas a melhorar e a digitalizarem-se.

Portanto, o vosso timing não podia ter sido melhor.  

Bem, se tivéssemos chegado um bocadinho mais cedo era melhor, porque já estávamos prontos (risos); mas sim, foi bom!

Qual é que foi a escola onde tudo isto aconteceu?

Foi no Grupo Ribadouro, cá no Porto.

E isso de ele ter feito isto tudo numa só semana é mesmo verdade ou foi só para ficar bem na história que contam (risos)?

Eu acho que ele fez a versão inicial entre uma semana a duas semanas, sim! Claro que tinha muitos bugs, mas foi melhorando a partir dai.

Então no início início era mesmo só o Diogo?

Sim, só depois é que ele convidou o Duarte a juntar-se, que era colega do curso de Engenharia e, depois, eles também queriam alguém com background em Gestão e convidaram-me a mim.

E, neste momento, quantas pessoas trabalham na Intuitivo?

Neste momento, somos cinco. Temos três pessoas na equipa tech e outras duas pessoas estão na equipa de Gestão e Vendas. Se tudo correr bem, em breve, vamos contratar mais duas pessoas: uma para cada equipa também!

Eu estou a envelhecer mais anos do que estou a viver.

Se tivesses de fazer uma timeline, desde o primeiro momento em que começaram a pôr as coisas no papel até aqui, qual é que seria o momento ou ponto-chave da Intuitivo?

É preciso pensar muito! Que caos (risos)! É que parece que aconteceu tanta coisa em tão pouco tempo… Então vamos a isso: perdemos esse primeiro cliente; a plataforma foi reiniciada do zero — tinha sido construída à pressa e era necessário algo mais sólido, por isso deitámos ao lixo e fizemos a coisa do zero —; depois foi muito difícil conseguir o primeiro cliente inicial outra vez e muito complicado obter investimento. Diria que o turning point foi quando entrámos na Demium, que é um programa de aceleração — entrámos em julho de 2021, se não me engano—, e recebemos o nosso primeiro investimento de 100 mil euros em dezembro. De lá até agora, foi (suspiros), mais uma vez, um stress total, uma luta para fechar as primeiras escolas, para obter mais trials, etc… Agora, diria que estamos noutro turning point: que é termos participado na TechStars, em Turim, onde estivemos a viver durante três meses. Conseguimos, com isso, um investimento de 120 mil euros. Além disso, também começamos a trabalhar este ano com o IAVE, que é a instituição que faz os exames nacionais cá em Portugal.

Isso é mesmo muito interessante!

Isso é o que estamos a festejar agora (risos).

Se pudesses escolher o maior ou o melhor momento da Intuitivo até agora, qual é que seria?

Entrarmos na TechStars é fantástico, porque a TechStars dá-nos um nome e credibilidade enorme em termos de investidores! Além disso, o IAVE dá-nos também um social proof em Portugal enorme. Já temos estado a ver isto a acontecer: as escolas apercebem-se que está a ser usada a nossa plataforma e contactam-nos porque também a querem usar. Este é o nosso melhor momento até agora!

Em Portugal, trabalhares com o IAVE é quase a validação última.

Sim, claro. Por exemplo, tivemos agora um diretor de um agrupamento de escolas que nos contactou. Fomos a uma reunião e ele nem quis ver a plataforma nem nada! “Se estão a trabalhar com o IAVE, é porque é bom! Eu quero, quanto é que custa? Vamos avançar!”, dizia ele. Faz toda a diferença, para nós faz toda a diferença mesmo…

Os vossos potenciais clientes serão, sempre, agrupamentos de escolas, as próprias escolas, o IAVE...

Sim, podem ser tanto escolas públicas como privadas, pode também ser o Governo, organizações governamentais ou municípios que queiram dar acesso às escolas todas do concelho. E nós também podemos fazer um trial — e queremos fazer mais no futuro — com outro tipo de instituições ligadas à educação, como centros de línguas, universidades… No fundo, todas as Instituições que tenham avaliações ou testes — pode ser uma coisa mesmo para explorar, no futuro.

Sim, mas estão num de dar um passo de cada vez, não é?

Sim, completamente. Para já, escolas e Governo já é muito bom (risos)!

Podes dizer algumas das escolas que já trabalharam com a Intuitivo?

Neste momento já trabalhamos com escolas tanto públicas como privadas, um bocado espalhados por todo o país. Começa a crescer exponencialmente, sim.

Para já, estão a focar-se no mercado nacional. No futuro, têm intenções de se internacionalizar? A plataforma está preparada para isso?

Vemos um bocado assim: um passo de cada vez. Mas o nosso objetivo principal agora após o Demo Day da TechStars é começar a preparar a nossa ronda seed. Queremos fechar uma ronda seed ainda em 2023 e com essa ronda conseguir explorar novos mercados. Não é ir para todos os países de uma só vez, mas é fazer bem as coisas.

Até porque, no caso da educação, as coisas são muito variáveis de país para país, não?

É assim: por um lado, a base da nossa plataforma é a ferramenta para criar conteúdos e não conteúdos pré-existentes. Portanto, é muito fácil de se adaptar a outros países, é só uma questão de traduzirmos a plataforma e estamos prontos para isso! Por outro lado, os mercados são diferentes, não sabemos a forma como trabalham as escolas, se é o município a pagar ou o Governo a pagar, quem é que faz o quê, etc. Não somos nada e temos de fazer um estudo de mercado muito mais extenso. Temos de começar a perceber melhor este tipo de coisas e escolher um par de países para começarmos a atacar. E, mesmo em termos de exames nacionais, como agora também estamos a construir e a melhorar a plataforma em relação a isso, também é plano nosso começar a tentar contactar outras Instituições Governamentais.

E, se eu te perguntasse onde gostarias de ver a Intuitivo daqui a cinco anos, o que é que me responderias? E daqui a dez?

Ok. Isso é difícil (suspiros).

A Intuitivo tem três anos, não é?

Sim, vai fazer três anos em março! Como empresa, dois anos mais ou menos. Como ideia, acho que até pode ter mais tempo. Ora, daqui a cinco anos…Em 2028, eu penso que nos vejo já… presentes em quase todos os países do mundo.

Em quase todos?

Nós, neste momento, estamos muito focados em B2B, ou seja, em vender a escolas, mas muita da nossa competição — mais ou menos indireta — trabalha também com B2C. A plataforma está disponível também para professores individuais neste momento, mas no futuro queremos disponibilizar para pessoas individuais e fazer planos premium, planos grátis, um modelo freemium. E achamos que é muito mais escalável porque nos permite, se quisermos daqui a uns anos, escalar para todos os países do mundo. Isto permite que qualquer pessoa, se quiser, dê referral à sua escola e nós trabalhamos com ele.

Até agora, temos tido muitas coisas boas, mas não há de ter sido tudo um mar de rosas aqui na Intuitivo (risos).

Não, não (risos).

Mas na nossa conversa até aqui foi tudo incrível (risos). Houve aí alguns dissabores neste percurso?

Então… muitas coisas. É muito duro. Eu estou a envelhecer mais anos do que estou a viver (risos). Estou a envelhecer mais do que devia (risos). Nos primeiros tempos já estivemos praticamente sem dinheiro mais do que uma vez, já tivemos de arranjar investimentos à última da hora para conseguir pagar impostos ou salários. Já tivemos uma das escolas privadas iniciais com quem nós trabalhávamos a parar de utilizar a nossa plataforma porque voltaram à escola presencial. Tivemos muitos, muitos, muitos nãos de escolas e de investidores também, porque dizem que EdTech não é um mercado bom e que não é um mercado escalável. Muita coisa mesmo! Muitos momentos de stress, mas apesar disso, acho que agora, estamos numa situação muito mais confortável. Não tem sido fácil, não tem sido fácil.

É o stress. É difícil lidar com isso.

E, sabendo o que sabes agora, terias alterado algum momento ou alguma decisão que tenham tomado?

Hmmm, acho que não. Acho que todas as decisões que tomámos foram boas, ou seja, com a informação que tínhamos no momento, era a melhor decisão. Não acho que tenha havido alguma coisa que tenha sido um grande erro. Aprendemos com tudo, aprendemos com tudo!

O que é que te fez juntar ao Diogo e ao Duarte para cofundarem uma empresa? Tu já tinhas trabalhado, antes?

Ah, eu nunca tinha tido um trabalho normal. Quando o Diogo e o Duarte me falaram da Intuitivo e me desafiaram a juntar-me, eu a fazer a minha tese de mestrado e, em part-time, era popular investor no eToro, uma plataforma de investimentos.

Sim, mas não sei bem o que fazem.

É uma plataforma que permite que invistas o teu dinheiro e também permite que os outros copiem os teus investimentos. E, depois, tu recebes uma percentagem desse valor.

Mas tu… o que é que tu fazias exatamente?

Eu comecei por investir por interesse meu. Na altura, estava a estagiar no Santander e comecei a investir o dinheiro. Comecei a investir, e houve uma altura em que comecei a escrever uns posts lá na plataforma e a ganhar copiers — que são as pessoas que copiam os teus investimentos. Comecei a dar mais atenção a isso e, a certa altura, já tinha imensos copiers e a gerir imenso dinheiro. Até acho que cheguei ao TOP30 do eToro e número um de Portugal! E estava a fazer isso da vida, mas esse nunca foi o meu objetivo, não era bem a minha paixão, via mais como um hobbie. Na verdade, eu sempre quis ser empreendedor, sempre quis ter uma startup, mas nunca tinha tido uma ideia ou as pessoas certas para fazer isso. Quando o Diogo e o Duarte, que têm a expertise técnica, me falam desta ideia…

Juntou-se o útil ao agradável?

Juntou-se o útil ao agradável, exatamente! E larguei tudo (risos).

E qual a razão do nome Intuitivo?

Foi o Diogo que se lembrou e eu não sei como é que ele se lembrou do nome em si, mas sei que, desde o início, o nosso foco com a plataforma é, além de ser uma plataforma centralizada onde posso juntar tudo num sítio, é ser extremamente fácil — daí o nome Intuitivo. Queremos que seja algo muito fácil, que toda a gente consegue usar. Os professores não têm muito à vontade com as tecnologias, por isso queríamos fazer uma plataforma que qualquer pessoa consiga utilizar.

Boa! Qual é, para ti, o maior desafio pessoal em liderares o projeto e seres o responsável?

Isto é engraçado: estávamos a falar disso hoje lá no escritório (risos). É o stress. É difícil lidar com isso. Acho que sinto essa responsabilidade, sem dúvida, e acho que estou a melhorar lentamente, mas é o stress diário das operações, o stress do “Será que, daqui a alguns meses, vamos ter dinheiro para aguentar?”, é difícil. Lidar com o stress diário, sem dúvida!

Eu sei que ainda antes de formarem a empresa, havia aí um local muito especial onde vocês trabalham. Conta-nos onde é que vocês faziam a magia acontecer nos primeiros tempos (risos).

Entre 2020 e 2021 e antes de recebermos o investimento, arranjámos um escritório que era de um amigo nosso — que era uma casa de elevadores — num prédio aqui da baixa. Era no último andar de um prédio, ali em frente ao Jornal de Notícias e esse foi o nosso escritório onde trabalhámos mais de um ano. Era mesmo fixe, porque era o nosso espaço, púnhamos música e tínhamos uma grande varanda para apanhar sol e com grande vista! Foi o primeiro espaço da Intuitivo!

Mas era uma casa de elevadores? Como assim?

Aproveitaram o último andar de um prédio, que antigamente era uma casa de máquinas. Lá dentro tínhamos uma sala que era o nosso escritório. Pagávamos pouquinho ao nosso amigo e ele deixava-nos ir para lá. E foi o nosso primeiro escritório!

João é “completamente viciado em futebol” e é um ás na Premier League — ao fim de semana vê os jogos e durante a semana prepara a sua equipa do Fantasy Football. Jogava a 10, nunca “deixou mal a equipa” por falta de esforço, até porque não consegue estar em nada a 50%. Agora joga uma vez por semana com amigos e não abdica do lugar anual no Dragão. Gosta de investir em empresas a longo prazo, é uma pessoa “muito distraída”, mas “simpática”.

Acredito que, neste momento, com a vida de uma startup, não tenhas assim tanto tempo livre como gostarias, não é?

Acho que consigo ter tempo livre. Claro que, sendo é uma coisa um bocado incerta, há certos fins de semana que tenho que trabalhar, mas também se calhar há certos momentos em que estou mais à vontade e posso, numa quarta-feira à tarde, ir fazer qualquer coisa. É a parte boa do nosso trabalho, não só como startup, mas também como empresa tecnológica: temos flexibilidade e posso fazer o meu horário.

És um homem que respira futebol, eu sei, mas já lá vamos (risos). Para além do futebol, tens outras ocupações ou já tiveste?

Os investimentos é uma coisa que me interessa, ainda! Gosto de analisar as empresas, pensar o que é que vão ter no futuro e investir, mas não sei se chamaria a isso um hobbie. É uma coisa que eu quero fazer desde cedo, para ir construindo o meu portefólio ao longo do tempo.

Mas, para tu saberes em que empresas investes, tens de fazer um estudo. O que é que tu estudas nas empresas?

Sim. Há dois tipos de estudos: a análise técnica, que é dos gráficos, das ações e tal. Eu não ligo muito a isso e ligo mais à análise qualitativa da empresa: o produto que eles têm, o mercado em que estão, se há potencial, se acho que têm uma vantagem competitiva em relação à competição e por aí. Há muita gente que se foca mais na análise técnica, de olhar para os gráficos e ler os padrões e ver se vai subir agora. Eu gosto mais de investir a longo prazo e pôr lá o meu dinheiro para apostar que aquilo, a longo prazo, vai correr bem.

De certa forma, tu ficas a torcer por ela e acompanhas a empresa (risos).

Sim, e mesmo com a Intuitivo, eu acho que acabo por usar softwares, por exemplo, de empresas nas quais eu invisto, porque percebo que, para nós é muito melhor esta solução do que a outra porque “faz isto e isto”.

Mas é o futebol que te leva o tempo livre todo, não é?

Eu sou completamente viciado em futebol, seja jogar, ver, jogar jogos — já joguei muito FIFA quando tinha entre os doze e os dezoito.

E se tivesses de escolher só uma atividade ou um hobbie?

O futebol e tudo o que tenha a ver com o futebol!

E quando é que surge o futebol na tua vida?

Eu comecei a jogar no Boavista aos quatro anos, portanto, foi desde muito cedo.

Ao invés de pagar 40 euros, recebia 50 euros por mês.

Começaste com quatro anos no Boavista e fizeste a tua carreira lá? 

Eu acho que saí do Boavista com uns treze anos e fui jogar para o Foz — o Futebol Clube da Foz. E joguei lá, no Campo da Ervilha, o resto da formação e o primeiro ano de sénior (joguei uma época de sénior lá). Subimos acho que à Divisão de Elite — não me lembro se era a Divisão de Elite ou de Honra. Subimos de divisão, na altura e, depois, fui de Erasmus e parei de jogar futebol. Quando voltei, na época seguinte, fui tirar o Mestrado para a NOVA e joguei lá uma época, porque foi a primeira equipa de estudantes a jogar na Distrital em Portugal.

Como se chamava a equipa? E em que posição é que jogavas?

É a equipa da NOVA. Ainda existe, acho que estávamos na segunda Distrital. É mais pelo clube, não era profissional. Eu sempre soube que não ia dar para jogador profissional, mas gosto muito de jogar e gosto muito do ambiente no balneário. Jogava a 10.

E qual foi o maior achievement da tua carreira?

Acho que não tenho grandes achievements (risos). Nós fomos campeões distritais de futebol de sete infantis. Fomos campeões distritais, na altura: ganhámos ao Porto e tal. Claro que os melhores jogadores do Porto já não estavam a jogar futebol de sete, não é? Já estavam no futebol de onze (risos), mas, na altura, ganhámos isso! E, talvez, jogar uma época sénior, porque, na altura, nas camadas jovens, eu pagava para jogar. Depois, passei para a primeira época de séniores — tinha uns 18 anos—, nunca jogava, estava sempre no banco, mas foi fixe porque comecei a receber 50 euros por mês, então estava todo contente (risos). Ao invés de pagar 40 euros, recebia 50 euros por mês (risos). Já ficava feliz!

E do que é que mais gostavas quando jogavas?

O jogo. O dia de jogo. Os fins de semana, sei lá, um dia de jogo em que está sol, não está muito calor, não está muito frio. Condições atmosféricas perfeitas são… epá, olhar para a relva, é a paixão. Não sei!

E jogaste nalgum grande estádio do nosso país?

Não, acho que só joguei uma vez no Bessa. Ah, e joguei uma vez no do Gil Vicente, Paços de Ferreira, Rio Ave e Leixões,mas foi porque o campo de treinos estava a ser usado. (risos) Então, tínhamos de ir para o estádio (risos).

Do que é que menos gostavas?

O facto de não me dar flexibilidade nenhuma na minha vida. Eu não gosto de fazer as coisas a 50%. Se é para fazer parte de uma equipa, não vou estar a abandonar, a faltar aos jogos ou a faltar aos treinos. E isso exige não haver fins de semana fora com a namorada, não poder — não é que eu seja muito de sair à noite (risos) — ir a uma festa, a um aniversário… Levava as coisas a sério. Não é que eu jogasse a nível alto, mas não queria deixar mal a equipa.

E, hoje, já não tens esta ligação ao futebol de teres treinos, jogos e rotinas, mas, pelo que percebi, nunca vais deixar de ter esta ligação ao futebol?

Não, não!

Jogas com amigos regularmente, não é?

Jogo com amigos regularmente, jogo agora sim. Uma vez por semana, por aí. Futebol de cinco. Já não remato a uma baliza de onze há anos (risos)!

Portanto, para além de jogares com amigos regularmente, como é que o futebol faz parte do teu dia-a-dia e da tua semana?

Ao fim de semana, sempre que está a dar a Liga Inglesa e, sempre que estou em casa, estou a ver a Liga Inglesa, sempre. Sempre, sempre, sempre! Jogo Fantasy, por isso durante a semana estou a preparar a jornada para tentar descobrir quais são os jogadores que vão jogar bem este fim de semana (risos). Vou ao estádio e tenho o meu lugar anual no Dragão.

És portista?

Sim, sou portista. Eu acho que gosto mais de ver a Seleção de Portugal do que o Porto, mas sou portista.

E há mais algum desporto que faça parte da tua vida?

A sério a sério, não acompanho mais nenhum. Às vezes, vejo Fórmula 1, mas não passa muito disso, sinceramente. Agora, comecei a jogar padel com os amigos, porque toda a gente joga agora, não é (risos)?

Ah, até fica mal não jogar (risos)?

Exato, até fica mal nem jogar (risos)! Jogo padel às vezes e gosto, mas sobre outros deportos: gosto mais de jogar do que de ver. Ver só o futebol, sim!

Disseste há pouco que jogavas regularmente com amigos. Tens uma equipazinha formada ou é um grupo no Whatsapp?

É um grupo no Whatsapp. Já tive também uma fase em que tínhamos um grupo em que participámos aí nuns torneios de futebol de sete, mas não. É grupo no Whatsapp “jogo segunda-feira às oito e meia? Quem é que vai?” Ou seja, o que for. Pomos o nosso nome, chega-se aos dez, marca-se o campo e vamos lá.

Sou uma pessoa muito facilmente distraída, acho que herdei isso do meu pai.

É a forma mais rápida e tranquila para marcar um jogo agora (risos).

É fixe! E dá para fazer um bocado de desporto. Houve aí uns tempos que eu não fiz nada durante muito tempo e fica mal (risos) Nem é pela aparência, é mais pela condição física… é um bocado isso. É preciso fazer um esforço…

Até te ajuda a trabalhar melhor, não?

Sem dúvida. E uma pessoa fica mais bem-disposta, é verdade! Faz mesmo diferença e eu estou a falar contra mim.

E jogas com o pessoal da Intuitivo?

O Duarte joga comigo nesses jogos, às vezes, e o Henrique também. Os outros não.

Se tivesses de escolher um momento como o momento mais impactante da tua vida qual escolherias?

É difícil, mas talvez Erasmus. Talvez Erasmus me tenha ajudado a crescer enquanto pessoa. Nunca tinha vivido fora da casa dos pais, ir para fora do país, viajar, fazer novos amigos e sair um bocado da zona de conforto. Acho que me mudou um bocado e a minha família e os meus amigos disseram isso quando eu voltei.

E tu foste para onde?

Ljubljana.

E tens alguém que tenha marcado muito a tua vida? Algué que, de alguma forma, foi especial no teu percurso?

Acho que não, ninguém em especial. Se tivesse de dizer, diria os meus pais, obviamente, porque acho que me deram as condições todas e sempre me fizeram de tudo para me darem tudo. Sempre me deixaram à vontade quando, por exemplo, eu quis estudar para a NOVA. É uma coisa que nem muita gente pode fazer. Sempre me deram as todas as condições no que tinha a ver com estudos, para tomar as minhas próprias decisões, estudar o que quiser e fazer o que eu quiser. São muito abertos e apoiam em tudo.

.

Tens alguma coisa que sem a qual não consigas viver?

Se for futebol é outra vez a mesma resposta, não é (risos)?

Mas pode ser, tu é que sabes (risos)!

Eu acho que conseguia viver sem o futebol, mas era muito chato (risos)! Não, não conseguia viver sem as pessoas que me são mais próximas: família, namorada, amigos. Os mais próximos são um apoio grande e gosto de estar com eles, portanto, sem eles, não era a mesma coisa!

Qual é o teu maior defeito?

Stresso demasiado com as coisas, mas não sei se isso é um defeito… Ah, já sei! Sou uma pessoa muito facilmente distraída, acho que herdei isso do meu pai. As pessoas podem estar a falar comigo e eu estou na lua, de vez em quando. Eu chego e os meus amigos gozam comigo e chamam-me de avô (risos). Sou muito…

Cabeça no ar (risos).

Sim, sou muito cabeça no ar. Acho que sim.

E virtude? Qual é a tua maior virtude?

Acho que sou uma pessoa simpática ou quero acreditar que sim (risos)… Acho que sou uma pessoa que consegue pôr as pessoas à vontade.

Boa. E, quando eras criança, não querias ser empreendedor (risos)?

Não, não (risos).

E o que é que querias ser, então?

Por acaso, na minha escola, tínhamos sempre um livrinho que, todos os anos, tinhas de dizer o que querias ser quando fosses grande. Eu acho que tinha jogador de futebol na maior parte deles, e acho que houve uma altura em que eu queria ser arqueólogo e…, não faço a mínima ideia porquê (risos). Lembro-me que me deram um kit de escavar no Natal e eu nunca mexi naquilo (risos). Portanto, foi uma fase, acho eu. Mas acho que, quando era miúdo, era futebol. Depois, a partir de certa altura, a parte aí dos 14, sempre soube que queria tirar Gestão, mas não sabia ainda exatamente o que é que queria fazer, mas sempre soube que queria tirar Gestão.

E agora, pergunto: porquê gestão? Foi fácil a escolha, já percebi?

Por causa de ter o meu negócio. Queria ter o meu próprio negócio. Quando era miúdo queria ter uma tabacaria, porque adorava cromos do futebol (risos). Sempre fui tendo uns pequenos negócios quando era miúdo para ganhar algum dinheiro. Não sei, acho que sempre quis ter o meu próprio negócio. É isto. Na escola, à família, vendia tudo.

E três coisas que queiras mesmo fazer na tua vida?

Quero viajar e fazer grandes viagens — tipo ir para a maior parte dos cantos do mundo, um mochilão na América do Sul durante meses, percorrer todo o Sudeste Asiático, ir à Islândia, África. Gostava de ter uma família de alguns filhos (risos), porque eu sou filho único — eu brinco com isto com a minha namorada, mas gostava de ter uma família grande. E terceiro: manter as pessoas que me são próximas agora — quero mantê-las na minha vida. Acho que essas três coisas e está feito! Ficava feliz!

Share Article