Rui Monteiro: “A nossa matéria-prima são as pessoas e o conhecimento.”

Rui Monteiro é CEO da NAU21, uma empresa com três anos que quer simplificar os processos que existem nas companhias de seguros. É portuense de gema — nasceu, cresceu, estudou e vive no Porto, assim como toda a sua família. Estudou Engenharia Informática no Instituto Superior de Engenharia do Porto e fez um MBA na Porto Business School, porque, apesar da sua paixão ser “criar e fazer”, é fundamental saber gerir uma empresa. Esteve às portas da Força Aérea, praticou desporto — futebol, futsal, ténis e natação —, mas agora é o golfe que o acalma. Gosta de passear na sua XT350 — recentemente restaurada —, mas é da sua esposa e das suas três filhas que nunca abdica para umas boas férias.

O que é a NAU21?

A NAU21 é uma empresa que tem o sonho de criar um laboratório de inovação com base na utilização de tecnologias e, com isso, simplificar a vida das pessoas. Nós acreditamos que a tecnologia atualmente tem um papel muito importante em qualquer coisa que nós fazemos — e agora com a pandemia vemos isso perfeitamente com os negócios a serem cada vez mais digitais. Queremos, por isso, trazer para o mercado, especificamente para a área dos seguros, disrupção nos processos de negócio, nomeadamente na subscrição de apólices e gestão de sinistros. Atualmente, são processos muito pesados, cheios de papel, burocracia, que demoram muito tempo e que estão muito sujeitos à fraude. Nós queremos investigar tecnologias como blockchain e inteligência artificial, combinar as duas e trazer soluções práticas para o mercado que consigam resolver problemas reais. Uma análise de um sinistro, neste momento, demora meses e nós temos a ambição de tornar essa mesma análise em dias — ou até mesmo em apenas um dia.

E como é que podem fazer isso?

Queremos reunir toda a informação necessária para gestão de um sinistro — todos os meios de prova, todas as entidades com interesse legal — em tempo real para que seja possível fazer esse processamento rapidamente. Por exemplo, uma pessoa para participar um sinistro de invalidez numa companhia de seguros tem de levar um certificado — um atestado médico de invalidez multiusos —, dizer o grau de invalidez que tem, a companhia vai analisar, enviar para um médico da companhia que vai analisar, novamente, se o grau de invalidez está correto ou não e, caso não esteja, vai pedir mais informação, para depois ser analisado outra vez e, por fim, a companhia decide se paga ou não paga. Se eu conseguir ter uma rede colaborativa onde tenha o médico, a companhia de seguros, a pessoa que está a participar e os outros intervenientes necessários, a pessoa participa no sistema, o médico é notificado, dá o parecer rapidamente porque já tem toda a documentação e a companhia pode decidir de imediato. Com esta solução conseguimos, talvez, resolver este sinistro numa questão de horas — sendo que atualmente demora meses a conseguir terminar este processo. A ideia da NAU21, no fundo, é trazer para um sistema distribuído todas as entidades que têm interesse na execução daquele processo e pô-las a aceder e a responder às solicitações em tempo real.

A ideia da NAU21 surgiu para dar resposta a estes processos que foram identificando?

A NAU21 surgiu por uma oportunidade de negócio que foi identificada. Os processos informáticos das companhias de seguros são obsoletos e de difícil mudança. Achámos, por isso, que havia um espaço por preencher no mercado. Era necessário um player que conseguisse aliar a confiança das companhias de seguros à capacidade de inovação. Não havia, por exemplo, uma consultoria muito especializada e focada no negócio, nem nenhuma empresa que apresentasse soluções informáticas que conseguissem simplificar os processos das companhias.

A NAU21 é um player de seguros bastante diferente daquilo que o mercado está habituado.

Nós somos um player bastante dinâmico e diferente, com um posicionamento diferenciado, que aporta valor mais pelo compromisso da entrega e pelo compromisso com os nossos clientes. Se o nosso cliente tem um objetivo de criar alguma coisa — de lançar um produto ou reestruturar um processo — nós temos um compromisso muito sério com os objetivos traçado por cada cliente. Este compromisso só “conta” se o conseguirmos efetivar, ou seja, se conseguirmos concretizar o objetivo de cada cliente, porque uma coisa é o jogo jogado e outra é o jogo falado (risos). Acho que é aí que a NAU21 se diferencia: muitas das coisas que fazemos não são feitas como o cliente pede, mas são feitas como o cliente quer. Muitas vezes pedem coisas que não são bem exatamente o que precisam (risos). O facto de termos um grande conhecimento sobre os processos ajuda muito na nossa abordagem aos clientes.

Muitas vezes os clientes não vos conseguem dizer bem aquilo que precisam, não é?

Sim, sim. Eles sabem o que não querem — isso é um facto. Muitas das vezes os clientes não nos conseguem transmitir bem o que que querem, mas pedem alguma coisa para melhorar. O nosso trabalho, não raras vezes, é encaminhá-los para uma solução que nós achamos ser a melhor e que, a maior parte das vezes, o cliente nem estava a considerar aquela opção final para resolver o problema.

Eu diria que este é um mercado muito “fechado” e que não é assim tão grande como se possa pensar. Não são assim tantas as companhias de seguros em Portugal.

Sim, é um mercado muito muito fechado e pequeno. Isto é uma família, porque toda a gente se conhece. Nós estamos a falar de um mercado que tem potencialmente 20 a 30 clientes, no máximo, mas destes interessam-me uns 10 ou 15. Além disso, há muitos que têm o poder de decisão fora de Portugal. Neste momento, eu diria que conhecemos todas as companhias, as pessoas, os seus processos, as soluções informáticas e este prestígio que a NAU21 já foi ganhando nestes três anos, resultou do bom trabalho que fizemos no nosso primeiro cliente. E como este meio é tão pequeno, existe quase um contágio natural para outras companhias. Há mais equipas de futebol na Primeira Divisão do que companhias de seguros em Portugal (risos). Se no futebol todos se conhecem, muito mais acontece aqui no meio das companhias de seguros.

A NAU21 é uma empresa bastante recente, mas começa já a dar passos concretos no mercado, certo?

Nós começámos em 2018 — completamos em março o nosso terceiro aniversário — com uma companhia e, atualmente, trabalhamos já com sete companhias de seguros. Tivemos um crescimento enorme em três anos.

E como é que surge este nome? NAU21 porquê?

O ADN da NAU21 está muito ligado a inovação. O nome NAU21 vem de um barco inventado pelos portugueses no século XV: a nau. A nau evoluiu da caravela e era um barco de grande porte que permitiu aos portugueses diferenciarem-se dos outros países na conquista e nos Descobrimentos, utilizando tecnologia — que na altura era um conjunto de ferramentas de navegação — e os próprios barcos. A nau vem mudar tudo o que tinha a ver com navegação marítima, porque conseguia navegar à bolina e tinha uma quantidade de características que permitiram a Portugal diferenciar-se das restantes nações. Nós, no século XXI, temos a ambição de trazer essa inovação para o campo tecnológico e criar soluções reais para problemas efetivos.

Quantas pessoas estão a trabalhar na NAU21 atualmente?

Hoje somos catorze. Estamos claramente numa fase crescimento e estamos a contratar — com muita dificuldade — para desenvolvimento.

Quem são os colaboradores da NAU21?

Eu diria que 80% das pessoas que trabalham na NAU21 têm décadas de experiência na área de seguros. A grade maioria de nós trabalha há muitos anos nesta área e, por isso, conseguimos combinar uma consultoria especializada que fazemos — onde identificamos lacunas, problemas e oportunidades de melhoria — com uma componente tecnológica que responde às dificuldades encontradas nas companhias de seguros.

No futebol temos um Cristiano Ronaldo, mas não conseguimos ter outro.  Tudo o que é conhecimento não é possível escalar e nós estamos no topo da pirâmide no trabalho de consultoria especializada.

A NAU21 está a precisar de fazer crescer a equipa.

Sim, só que há algo muito complicado no escalar. Nós funcionamos com base em conhecimento. Todos os negócios que funcionam sob o paradigma de conhecimento é muito difícil de escalar. Nós olhamos para o futebol, vemos que temos um Cristiano Ronaldo, mas não conseguimos ter outro (risos). Temos um e não conseguimos ter dois. Tudo o que é conhecimento não é possível escalar e nós estamos no topo da pirâmide no trabalho de consultoria especializada nesta área. Tradicionalmente, uma empresa de informática coloca seis pessoas a trabalhar num cliente e “está feito”. Nós não funcionamos assim, porque nós funcionamos por competências. Cada um de nós tem competências muito específicas em seguros e o que fazemos é repartir este conhecimento pelas diversas companhias que precisam delas. Eu não posso pôr a mesma pessoa em cinco sítios. Eu tenho de “gastar” um pouco daquela competência num cliente e depois “jogar” com a competência de outras para conseguirmos dar a melhor resposta. Funcionamos por uma alocação de competências e não de pessoas.

Apesar do percurso ser de apenas três anos, quais foram os principais momentos da NAU21?

O primeiro momento foi a conquista do primeiro cliente. Tivemos uma companhia de seguros em Portugal que confiou em nós quando o projeto ainda se encontrava em “planta”, digamos assim. Tivemos, também, vários reconhecimentos de muitas entidades: a SCORING a nível de prestação financeira e a CIO Insurance Outlook pela nossa disrupção no mercado. Além disso, fizemos uma candidatura no âmbito do programa de investimentos e de incentivos do Portugal 2020 que foi aceite e, por isso, estamos a trabalhar em parceria com o INESC TEC em investigação cientifico-tecnológica. Por exemplo, a questão do blockchain é muito complexa e há muito poucos casos em exploração. Há muita investigação, mas pouca utilização real — e esta parceria também nos ajuda nesse sentido. Diria que, apesar de sermos muito recentes, estamos já a criar uma marca muito forte. E é este prestígio e notoriedade que achamos necessário ter antes de pensarmos em voos mais altos.

Os momentos mais complicados de gerir são por bons motivos: é quando temos três ou quarto companhias de seguros a pedir-nos cada vez mais coisas e nós com mais dificuldade em conseguir responder.

E quais foram os momentos mais complicados de gerir?

Ora, felizmente não houve muitos momentos difíceis. Os momentos mais complicados de gerir são por bons motivos: é quando temos três ou quarto companhias de seguros a pedir-nos cada vez mais coisas e nós com mais dificuldade em conseguir responder.

Onde é que a NAU21 vai estar daqui a cinco ou dez anos?

Isso é uma excelente questão e muito difícil de responder (risos). Nós temos atualmente sete companhias e há duas coisas que temos de fazer: crescer mais dentro destas companhias e outra é, dentro de dois anos, a expansão da empresa a nível global. Nós poderemos crescer mais um pouco em Portugal, mas nunca vamos passar os dez clientes, talvez. Queremos, nestas companhias, crescer numa lógica de mais intervenção e preponderância — e em algumas já estamos a ter bastante. Além disso, queremos globalizar. Estamos a construir uma plataforma informática completamente nova, que conjuga blockchain com inteligência artificial, e queremos internacionalizar. Vamos ver como as coisas vão correr, mas estamos muito motivados para conseguir criar uma plataforma única e global. Estamos, inclusivamente, a estudar o pedido de uma patente no que diz respeito a componentes de acesso a dados. No fundo, o objetivo é criar uma solução completamente disruptiva que vá modificar o mercado de seguros como o vemos hoje.

Esta plataforma seria aplicada em Portugal também, certo?

Sim, sim. No entanto, poucas companhias em Portugal têm capital português, por isso o poder de decisão está fora de Portugal. Acredito que será difícil entrar numa Zurich, Allianz, ou Generali por Portugal, porque o poder decisório para projetos estruturantes desta natureza não está cá.

No fundo, querem sair de Portugal para poder voltar a entrar em Portugal (risos).

Sim, sim (risos). Possivelmente poderá acontecer mesmo isso (risos).

Aqui, o que precisamos é de pessoas e de pessoas que pensem. Quanto melhor as pessoas estiverem, melhor vai ser o resultado.

Qual é o maior desafio de liderar um projeto como este?

Pessoalmente, é ter todas as pessoas da NAU21 a trabalhar de forma alegre, bem-disposta e motivada. A nossa matéria-prima são as pessoas e é o conhecimento. Se eu trabalhasse com madeira, ferro ou com cimento tinha uma preocupação diferente (risos), porque ia querer essa matéria-prima bem guardada em bons armazéns. Aqui, o que precisamos é de pessoas e de pessoas que pensem. Quanto melhor as pessoas estiverem, melhor vai ser o resultado. Nós temos uma cultura muito própria na NAU21 que funciona um pouco sem chefias. É um pouco estranho, porque nós não temos managers disto e daquilo (risos). Se alguém precisar de um chefe eu estou cá, se ninguém precisar, impecável. Nós funcionamos por compromisso e por projetos — e para isto é preciso muita maturidade e responsabilidade. Nós temos uma cultura de intercâmbio — através de muita comunicação e partilha — para que se consiga dar resposta aos desafios da empresa sem haver uma necessidade de hierarquia. Não controlamos horas, âmbitos, espaços… Se as coisas estão a correr bem e os projetos estão prontos na altura devida, o que é que me interessa se a pessoa trabalhou às 09h00, se trabalhou aqui, se trabalhou em casa ou se trabalhou noutro sítio? Tudo isto só funciona se houver um forte compromisso, maturidade e responsabilidade. Até agora tudo tem funcionado muito bem.

Esta forma de estar ainda “dificulta” mais o processo de recrutamento da NAU21, talvez. Isto porque não procuram apenas competência e conhecimento, mas também maturidade para se enquadrar numa equipa como esta.

Sim, sem dúvida. Nós temos um cuidado tremendo com as pessoas que colocamos dentro de casa, porque entram para a nossa família. Quer dizer, agora nem tanto (risos), porque não entram para nossa casa mesmo. Na verdade, nós temos muitos convívios: churrascos, almoços, jantares nas casas uns dos outros e levamos as nossas famílias. Isto promove cada vez mais a cumplicidade entre a equipa, mas nunca foi imposto. A minha ideia não era fazer isto, mas de forma natural as pessoas começaram a promover este tipo de convívios.

A sua vida poderia ter sido muito diferente se tivesse chegado mais cedo à inscrição para a Força Aérea e se tivesse participado naqueles treinos de captação do Futebol Clube do Porto, mas Rui não ficou preso ao passado. O pai ensinou-lhe os princípios e valores que hoje tem e A Vida é Bela é o seu filme preferido pela “grande lição de paternidade”. Quando viaja tem de conhecer as igrejas e os estádios de cada cidade, mas é a estratégia do golfe que o prende à terra no green. Estivemos à conversa com Rui Monteiro no City Golf.

O Rui é um homem com vários ofícios (risos). Há golfe, há motas, há viagens... Destes e de outros possíveis passatempos, o golfe é o seu principal hobby?

Sim, gosto mesmo muito de golfe.

Como é que aparece este desporto?

Surgiu como uma experiência, por convite de um dos administradores de uma empresa onde trabalhei. Levou-me uma vez para experimentar e eu gostei e fui explorando cada vez mais.

E o que é que nos tem a dizer sobre o golfe?

O golfe é um desporto singular, porque é, por exemplo, dos poucos desportos onde podemos ter uma pessoa de 70 anos e outra de 20 anos a competir entre si. Através do sistema de handicap, o golfe permite nivelar as pontuações de qualquer jogador. Além disso, no golfe eu não tenho ninguém a importunar ou a dificultar a minha ação. O único adversário no golfe é o próprio campo, que é desenhado para trazer dificuldades ao jogador — através dos bunkers de areia, de hubs, desníveis, o trajeto e a própria distância. Por exemplo, o golfe talvez seja mesmo o único desporto de alta competição que não tem controlo anti-doping. Aliás, as substâncias de dopagem são más para quem joga golfe, porque aqui o que é preciso é um calmante (risos).

Eu diria até que só estarmos num campo de golfe já é um momento agradável. Só este verde e esta natureza que podemos sentir já é um momento diferenciador.

Exatamente. Os campos de golfe são bonitos, há espaço para caminhar e para se passar um bom tempo.

O Rui já chegou a participar em algum torneio ou competição?

Já fiz alguns torneiros amadores, sim. Aliás, é obrigatório para manter o handicap — que é o “nível” de cada jogador — fazer três ou quatro torneios por ano.

O golfe associa-se muito às elites, não é?

É verdade, mas é erradamente. O golfe pode ser jogado por todos e é necessária uma “democratização” do jogo. Por exemplo, fica mais caro alugar um pavilhão para ir jogar futsal do que vir até aqui ao CityGolf bater umas bolas. As pessoas pensam que é caro, mas na verdade não é. Só não temos é essa cultura, ainda.

O que é que se pensa enquanto se está a jogar golfe?

Por incrível que pareça, acho que a pessoa se desliga de tudo. O golfe é um jogo de estratégia, talvez até parecido com o xadrez. A pessoa está focada no objetivo do buraco e desliga-se de tudo e o próprio ambiente do golfe propicia a que isso aconteça.

Costuma jogar golfe sozinho ou normalmente é com amigos?

A maior parte das vezes é com alguém, até, às vezes, com pessoas que nem conheço. Há um grupo que vai sair, imagina, e a pessoa junta-se ao grupo e a partir daí são três ou quatro horas que vamos estar ali na conversa. Outras vezes combino mesmo com um ou outro amigo e vamos jogar.

O desporto sempre esteve muito presente na sua vida, não foi?

Sem dúvida. Já joguei futebol, futsal, ténis… Sempre pratiquei desporto, mas tive um problema no joelho que ainda cá está — tanto o joelho como a lesão (risos). Este problema impediu-me de fazer desporto que implicasse esforço e, portanto, tive de deixar a maioria do que fazia.

Sei que há também um prazer especial nas motas, não é? Como é que surge?

O gosto surgiu desde que era miúdo mesmo. Sempre gostei de andar de bicicleta e o passo seguinte, naturalmente, foi gostar de motas. Também sempre gostei de ver as corridas de motas na televisão. Foi uma coisa muito natural.

Eu fui tirar a carta de mota… de mota!

Nunca ambicionou ser um Miguel Oliveira, então (risos).

Não, não. Esses andam muito depressa (risos). Aliás, eu fui tirar a carta de mota… de mota (risos)! Eu cheguei lá e disseram “Então já vem de mota para o exame?” e respondi que por isso é que eu precisava da carta, para poder andar de mota à vontade (risos). O que eu gosto mesmo é de passear de mota. Gosto de ver as corridas, mas comigo a conduzir gosto é de passear. E cá em Portugal temos ótimas estradas para andar de mota: a 222, a Nacional 2, algumas para o Gerês… Fazem-se passeios de mota belíssimos.

E qual é a sua mota de eleição?

Atualmente tenho uma mota com 27 anos, que restaurei recentemente. Era uma mota muito conhecida — a XT350 — e tem algumas particularidades, porque acaba por ser quase uma bicicleta (risos). É muito ágil, maneável, é boa para andar na cidade… E depois, por exemplo, tem um único cilindro e tem quatro válvulas — algo que não tinha necessidade nenhuma de ter (risos). Tem dois carburadores, o que não faz sentido para uma mota com uma cilindrada tão pequena (risos). Portanto, tem alguns pormenores engraçados. Esta é uma mota “do meu tempo” que ainda me dá muito gozo conduzir e controlar.

Sei que também há aí uma grande paixão por viajar. Qual foi a melhor viagem que já fez?

Pergunta difícil (risos). Há muitas viagens que já gostei muito de fazer. Gostei muito, por exemplo, do Rio de Janeiro, Nova Iorque, Maputo…

E o que é que gosta de ver quando vai visitar alguma cidade?

Há duas coisas que gosto sempre de visitar: a Sé (o templo religioso) e o estádio principal da cidade (às vezes será basquetebol, outras basebol ou futebol). Estes dois edifícios dizem muito sobre as cidades e sobre as culturas, porque o desporto e a religião existem em todo o lado. Quando falo de desporto há imensas atividades desportivas, assim como há várias religiões pelo mundo e ao conhecer estes dois sítios das cidades sinto que conheço uma parte daquela cultura. São os meus sítios de eleição quando vou a uma cidade nova.

Qual é sua a viagem de sonho?

Uma que eu gostava muito de fazer era visitar de uma única vez — ou seja numa só viagem — todas as ex-colónias portuguesas e todas as terras que Portugal conquistou. Outra viagem que gostava de fazer era conhecer de mota a Europa através do Pirenéus, descer a Itália e regressar pelo Norte da Europa — isto demoraria muito tempo, algo que nesta fase é impossível (risos). Vamos ver se, no futuro, tenho saúde, energia, disposição e alegria para fazer (risos).

A pessoa que mais me marcou foi o meu pai, por tudo o que ele representou e por tudo o que sou hoje.

Quem foi a pessoa que mais o marcou?

A pessoa que mais me marcou foi o meu pai, por tudo o que ele representou e por tudo o que sou hoje. Se alguma coisa consegui até agora foi por causa dele, quer pela educação, pelos princípios… por tudo.

O que é que não fez e sente que devia ter feito?

Arrependo-me de não me ter inscrito na Força Aérea quando tinha 17 anos, porque era algo que gostava muito de ter feito. Tinha tudo o que era preciso para me inscrever, mas fui uma semana fora do prazo e já não consegui. Outro arrependimento foi ter falhado a captação de jogadores para o Futebol Clube do Porto. Tinha marcado, mas não consegui ir e depois era só até àquela idade. Talvez estas duas coisas que pudessem ter mudado um pouco a minha vida (risos).

O que é que não pode faltar nas suas férias?

A companhia da minha família — da minha mulher e das minhas três filhas —, sem dúvida. Não pode faltar o contexto familiar. Aliás, se faltar alguém já não é a mesma coisa.

Qual é o seu livro preferido?

A literatura portuguesa está muito presente nos meus hábitos de leitura. No entanto, um dos livros que mais me marcou foi “A Fenda” de Doris Lessing, porque retrata de uma forma fantástica e cativante uma das possíveis teorias da história do início da Humanidade.

E filme?

A Vida é Bela, porque é uma lição enorme de paternidade.

Qual é o seu maior defeito, Rui?

A teimosia.

E qual é qualidade que mais vezes lhe apontam?

Acho que é a generosidade.

Agradecemos ao City Golf pela forma amável e prestável como nos recebeu para esta conversa.

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