Pedro Fragoso Lopes: “Eu gosto de ter sempre os pés no chão. A ideia é crescer com pequenos passos e de forma sustentável.”

Pedro Fragoso Lopes nasceu na Guarda, mas cresceu e viveu na Pocariça, uma pequena aldeia perto de Cantanhede. Fez a licenciatura e mestrado em Design na Universidade de Aveiro e está a frequentar o PhD na Universidade do Porto. Tem 31 anos e foi atleta de alta competição de natação — esteve inclusivamente no Programa Pré-Olímpico de Pequim 2008. Foi filarmónico na Associação Musical da Pocariça e hoje está ligado à Banda Filarmónica de Cabanas de Viriato (em Viseu) e à OPUS 21, uma orquestra ligeira. Faz parte da Sacapelástica, um power trio que o seu tio Paulo criou. É baixista, saxofonista, cantor e ainda “dá uns toques” no piano e guitarra. Depois de fundar a Planet Fusion Studio — um projeto que não correu bem —, criou em 2018 a Cachupa Creative Studio, uma empresa de comunicação para entidades de impacto social.

O que é a Cachupa Creative Studio?

A Cachupa é quase um rip off da Planet Fusion Studio [empresa cofundada pelo Pedro Fragoso Lopes em 2016 e que terminou em 2018]. A Planet era uma empresa que dizia que fazia tudo — design, multimédia, fotografia, vídeo, ilustração, tradução, acting, voz off, entre outros — e dizíamos que éramos uma empresa multidisciplinar. A Cachupa continua a ser uma empresa multidisciplinar, mas nós não o dizemos (risos). Nós afirmamo-nos como uma empresa de comunicação para entidades de impacto social. Resumidamente, a Cachupa é uma empresa de comunicação e criação de conteúdos, focada em entidades de impacto social.

E como é que surge esta especialização da Cachupa na área do impacto social?

Quando fiz o meu Mestrado em Aveiro, eu especializei-me numa vertente do design que na altura estava em grande crescimento: o Design para a Inovação Social. Esse projeto de mestrado culminou no Maneiras de Sever — que é hoje um dos maiores projetos da Cachupa — e que tem como objetivo criar uma ligação e um sentimento de pertença entre os jovens de Sever do Vouga e a sua cultura e o seu território.

Além disso, em 2019 eu fiz um bootcamp do IES — também através da UPTEC — que me abriu as portas para a parte do impacto social “em bom”, digamos assim (risos). Comecei a trabalhar com o Movimento Transformers e com o próprio IES, que hoje são dos nossos maiores clientes.

Sentes que a Cachupa pode acrescentar valor a estes projetos através da comunicação.

As instituições de impacto social necessitam efetivamente de uma comunicação mais cuidada e sinto que, devido ao facto de funcionarem sobretudo à base de voluntariado, descuidam a parte da sua comunicação. Nós temos solução para isso. O foco está em criar os conteúdos para estas instituições — desde o template para o Instagram ao vídeo que entra no Youtube — e garantir que estas aprendem a comunicar mesmo depois do trabalho da Cachupa estar finalizado.

É aqui que entra a multidisciplinariedade da Cachupa, não?

Sim, sim. Nós só dizemos que fazemos comunicação para o impacto social, no entanto nós oferecemos uma série de soluções de comunicação que vai muito além do que é o tradicional. Nós fazemos logótipos, vídeo — por vezes com drone —, fotografia, websites, impressão em 3D… E agora com o João temos também animação em 2D e 3D. Nós ajudamos no processo todo, no fundo.

E qual é a razão do nome da empresa? Porquê Cachupa?

Cachupa é um prato típico cabo-verdiano e há várias formas de o fazer. Pessoalmente, a minha preferida é a de atum. Basicamente, é uma espécie de cozido com milho específico de Cabo Verde, depois leva o feijão, o atum fresco… E para mim é importante porque a família da minha avó paterna é toda cabo-verdiana e a Cachupa representa o momento em que família está toda junta. Cachupa é o momento de união, o momento em que a malta se está a divertir e a dançar as mornas e os coladeras. Faz sentido a empresa ter este nome, porque é também a união das pessoas. Quem não sabe o que é cachupa quando come diz “isto é bom… não sei o que é, mas é bom” e acho que é um pouco isto. A Cachupa são pessoas à volta de um prato e a sentirem-se bem.

Quantas pessoas fazem parte da Cachupa?

Neste momento, a tempo inteiro sou eu e o João. Apesar disso, temos algumas pessoas com quem falamos quando temos projetos que precisem de outras áreas. O Ricardo — que até partilha o escritório connosco — faz fotografia e vídeo, por exemplo. E quando ele precisa da nossa ajuda também o ajudamos, claro. Temos algumas pessoas que nos ajudam em muitas áreas, porque o nosso foco é pensar o que é o cliente precisa. Se eu não conseguir responder àquela necessidade, a Cachupa arranja quem consiga.

Pelo que percebi o vosso foco é apoiar projetos de impacto social, mas também fazem outros trabalhos, não é?

Sim, sim. Temos o caso do Fiel Sven, por exemplo. Ele queria produzir um tabuleiro de xadrez, nós ajudámos e foi um projeto bastante interessante. Fizemos, também, um videoclip para uma Orquestra. Nós temos outro tipo de trabalhos, sim.

A Planet Fusion Studio foi um primeiro projeto teu que não correu da melhor forma. Apesar disso, trouxe-te muita coisa boa para a Cachupa.

As coisas na Planet não estavam a funcionar. Nós não fomos estrategicamente bons a fazer aquilo que devíamos ter feito. Tínhamos um cliente grande e estávamos a basear-nos quase exclusivamente nesse cliente. Um dia esse cliente disse-nos que já não dava mais e nós começámos a tremer, porque estávamos a. trabalhar tão afincadamente para esta entidade que não tínhamos tempo para divulgar o nosso trabalho. Foi uma boa aventura!

Neste momento não é tudo perfeito na Cachupa, obviamente, mas aprendi muito com os erros. Todos os dias aprendo qualquer coisa sobre gerir uma empresa. Eu gosto de ter sempre os pés no chão. A ideia é crescer com pequenos passos e de forma sustentável.

Até porque vocês comunicam a sustentabilidade dos vossos clientes (risos).

Sim, mas sabes que é como diz o ditado: “em casa de ferreiro, espeto de pau” (risos). Nós tínhamos esse problema até ao início deste ano, porque fazíamos comunicação para os outros e a nossa ficava de lado. Desde essa altura temos andado a dar força às nossas redes sociais e temos tido algum crescimento.

Como é que são os primeiros passos da Cachupa? Como foi o vosso início?

Quando a Planet fechou em 2018, eu fiquei com o subsídio de desemprego e durante essa altura fui ao bootcamp do IES e comecei logo a angariar clientes. E queres uma curiosidade? O primeiro cliente da Cachupa foi a UPTEC (risos), graças ao Nelson que se lembrou de nos pedir uns mini loops — uma impressão 3D da escultura da UPTEC Asprela I.

O João trouxe algo muito curioso que é, talvez, o ditado da Cachupa: “Um apocalipse de cada vez”.

Gerir a equipa é o grande desafio?

Sim, sim. Gerir as pessoas é um grande desafio. Gerir a equipa — que são pessoas —, gerir clientes/projetos — que também são pessoas — e garantir que estão todos satisfeitos é bastante interessante, mas um enorme desafio.

Quais foram os momentos menos bons da Cachupa até agora?

Não diria menos bons. Chamo-lhe “lições”, porque todos os projetos nos trazem coisas novas e aprendemos sempre algo. O João trouxe algo muito curioso que é, talvez, o ditado da Cachupa: “Um apocalipse de cada vez”. No fundo, se estamos apertados com montes de trabalhos, vamos é pensar uma coisa de cada vez. Temos tido alguns percalços, mas nem são bem percalços… São coisas que acontecem.

O que é que a Cachupa te ensinou?

Olha, ensinou-me a deixar que os outros colaborem comigo. Não posso ser só eu a colaborar com os outros. Ensinou-me a entregar trabalho e a delegar. Mesmo que as coisas não fiquem exatamente como eu idealizei, aprendi a “deixar estar”. Se as pessoas acham que está bom, se colocariam aquilo no Instagram ou no seu portefólio, eu aceito. Este é um processo de aprendizagem muito engraçado.

Onde é que gostavas de ver a Cachupa daqui a cinco ou dez anos?

Isso é pensar demasiado à frente. Gostava de ver a Cachupa, ainda este ano, com uma carteira de clientes um pouco maior, gostava de conseguir que o João fique a contrato e garantir que eu também tenho o income disto. E acima de tudo, gostava de expandir a equipa. Gostava de ter pessoas diferentes, multidisciplinares e até já ando a falar com a Fátima para arranjar um espacinho maior (risos).

Sempre quiseste criar a tua empresa?

Sempre tive a ideia de um estúdio. Quando ainda estava no Mestrado, eu e um amigo meu da Secundária abrimos um estúdio em minha casa chamado Dois Pontos e uma Nave Espacial. Foi construído, mas nunca mais fizemos mais nada (risos). A verdade é que eu sempre tive a ideia de fazer coisas por mim, mais a pensar que ia ser um artista ou designer de renome, mas nunca se proporcionou (risos). Eu sempre tive ideias e ainda tenho um monte de ideias que gostava de realizar.

A Cachupa foi afetada pela pandemia da COVID-19?

Olha, eu fiquei espantado porque no primeiro confinamento fechámos três avenças mensais. A Cachupa tornou-se sustentável — pelo menos para tomar conta de mim e do João — durante o primeiro confinamento (risos). Além disso, essas avenças mensais abriram-nos ainda outras portas.

O desporto e a música estiveram sempre presentes ao longo dos 31 anos de vida. Foi obrigado a parar de nadar quando estava a poucos passos de alcançar os Jogos Olímpicos. Sente falta de acordar às sete da manhã e dos treinos bidiários, mas não esquece os ensinamentos que o desporto lhe trouxe. É um músico eclético que ouve Aretha Franklim e Bach no mesmo dia, mas é na Sacapelástica que o seu talento para o baixo sobressai. Fomos até ao centro comercial STOP conversar e ver a sala de ensaios do power trio composto por uma guitarra, um baixo e uma bateria.

Tu és um homem dos sete ofícios, pelo que sei. O desporto e a música sempre fizeram parte da tua vida, certo? Vamos começar pela música. Conta-nos como é que começa a tua ligação à música.

Eu sou Fragoso Lopes, e os dois apelidos têm ligação com a música. Fragoso é da mesma família do António Fragoso, que foi um compositor português que morreu com 21 anos na altura da Peste e que era considerado um prodígio e até o “Debussy português”. Estou, por este apelido, ligado à música clássica e erudita.

Lopes é do lado do meu pai e o meu tio — Paulo Lopes — é guitarrista da banda Repórter Estrábico. Portanto, aqui vou buscar uma referência mais contemporânea e foi o meu tio que me ensinou a tocar guitarra e a tocar aquelas músicas pop dos anos 90 e 00. Além disso, eu via o meu tio na televisão a tocar e ficava todo contente.

No fundo, sou aquele gajo que toca saxofone com uma vertente clássica e que tem um tio da cena mais eletrónica e rock nacional. Sou esta fusão (risos).

E foste parar à Filarmónica da Pocariça porquê?

Eu cresci a ver a Banda Filarmónica a passar, portanto daí até querer entrar para a Filarmónica foi um instante. Entrei para o clarinete com oito anos, mas não gostava nada daquilo. O que eu queria era saxofone e foi isso que comecei, mais tarde, a aprender.

O teu percurso é muito diversificado (risos). Já tocaste em muitas bandas e associações.

Comecei na Associação Musical da Pocariça e estive lá até 2015. Em 2012, forma-se a Orquestra Ligeira da Pocariça — que depois passou a chamar-se OPUS 21, porque ficou ligada à Associação António Fragoso — e ainda lá estou. Além disso, o maestro dessa orquestra era também o responsável na Filarmónica de Cabanas de Viriato e começou-me a levar para lá porque precisava de malta de saxofone. Nesta banda faço um pouco dos três saxofones que toco: saxofone-alto, saxofone-tenor e saxofone-barítono. Havia concertos em que trocava de instrumentos três ou quatro vezes. Às vezes ainda me punha a tocar baixo e a cantar (risos). Entrei em 2012 para Filarmónica de Cabanas de Viriato e ainda continuo.

Além disso, existe ainda a Sacapelástica.

Exatamente, juntei-me em 2014. Esta banda já tem a ver com o meu tio Paulo. É um projeto totalmente dele e nós só somos a banda que lhe dá suporte. Dizemos que somos um projeto de rock & sample, porque não temos vocalista — o nosso vocalista é o computador. Somos um power trio — guitarra, baixo e bateria.

Então, afinal, quantos instrumentos é que tu tocas (risos)?

Toco baixo, saxofone-alto, saxofone-tenor, saxofone-barítono e contrabaixo. Cheguei a ter aulas de piano e dou uns toques na guitarra. E aprendi clarinete, mas já não me lembro de nada (risos).

Se tivesses de escolher só um instrumento para tocar o resto da vida, qual é que escolhias?

Acho que escolhia saxofone-barítono, porque junta o grave do baixo ao som do saxofone.

Ultimamente acredito que não tenhas tido concertos, mas como é que funcionavam as coisas antes da pandemia?

Tive concertos com a Filarmónica de Cabanas de Viriato no Natal, com Orquestra Ligeira e com a Sacapelástica durante a pandemia. Foram concertos filmados e não ao vivo, claro.

Quantas pessoas têm as tuas bandas?

A Filarmónica de Cabanas de Viriato tem entre 40 a 50 pessoas, a OPUS 21 tem 11 ou 12 músicos e na Sacapelástica somos três.

E qual foi o melhor concerto da tua vida?

Olha, um foi na Filarmónica da Pocariça quando tocamos pela primeira vez o 1812 de Tchaikovski. Nós éramos uma banda de putos, regidos pelo Paulo Margaça, e ele foi uma pessoa ele fez crescer muito o grupo desde a sua chegada em 2005. Tocar o 1812, em 2009 ou 2010, foi o auge, sem dúvida. Nós, nos anos anteriores, sempre achámos que não íamos conseguir tocar aquilo. E eis que conseguimos! Lembro-me perfeitamente de estar a tocar e virem-me as lágrimas aos olhos.

Outro concerto muito bom foi com a Sacapelástica quando ganhámos o CambraFest. Tivemos também um grande concerto que demos num concurso em Enxofães, perto de Cantanhede. Demos um concerto do caraças, mas não passámos à final (risos). Diverti-me mesmo muito!

E quais são as tuas referências musicais?

Beatles, Bach e mais recentemente Parcels. Três cenas muito diferentes (risos).

Qual é a música da tua vida?

Eu tenho uma playlist no Spotify que criei no ano passado quando fiz 30 anos, que tem 30 músicas que têm uma ligação comigo quase por anos. Tem a música mais antiga que me lembro de ouvir… Bem, mas respondendo à pergunta e se tiver de dizer uma digo-te Verdes são os campos, de Zeca Afonso.

O desporto sempre esteve muito presente na tua vida e chegaste mesmo a ouvir falar dos Jogos Olímpicos de Pequim 2008. Como é que chega a natação à tua vida?

A natação surge por um problema que eu tenho nas costas. Tenho uma cifose e era um bocado desajeitado — ainda sou, aliás (risos) —, por isso o médico mandou-me para a natação. História curiosa: em 1992 fui para Cabo Verde com os meus pais e o meu pai levou-me para a água e eu fiz uma birra gigante. Desde então, sempre fiquei com medo água e do mar. Eu não me lembro, mas foi traumático — o meu pai ainda esta semana falou disso (risos). Então eu só nadava até onde sabia que tinha pé, mesmo na piscina. Quando eu sabia que ia deixar de ter pé, voltava para trás. Isto foi um processo muito delicado, mas com o tempo fui andando e fui melhorando.

A piscina passou de um grande medo a um caso sério na tua vida, então.

As piscinas de Cantanhede fecharam para reabitilitação, e fizeram uma seleção — não havia a capacidade para levar toda a gente para uma piscina privada— para continuar a treinar. O Sr. Joaquim Padilha disse “eu acredito neste gajo”. Com 11 ou 12 anos consegui ir ao Torneio Zonal e fui sempre um atleta que participava nos Nacionais e nos Zonais.

E tens bastantes medalhas de natação lá por casa.

Em 2003 consegui a minha primeiro medalha nacional: um terceiro lugar nos 100 metros mariposa na Póvoa do Varzim. Em 2006 fiz dois pódios em duas distâncias de mariposa e depois fui a um meeting na TAP, no Estádio Nacional, e fiz um tempo dos melhores a nível nacional e fui chamado à Seleção Nacional. Nessa época, mais tarde, acabei por ser Campeão Nacional nos 200 metros mariposa.

E é no ano seguinte que as coisas mudam um pouco com a natação?

Sim, no ano a seguir já era júnior e estava com muito problemas na cara, porque tinha muito, muito acne. Então tive de optar por fazer um tratamento à cara — um tratamento muito duro. Basicamente eu tomava um anti-inflamatório que diminuía a capacidade do meu organismo de captar oxigénio e por isso o meu rendimento não era o mesmo. Aliás, eu só voltei ao meu nível três anos depois. Estava no Plano Pré-Olímpico para Pequim 2008 e ter feito o tratamento deixou-me a cara em bom estado, mas impediu-me de continuar. Em 2009 voltei a ter resultados interessantes, mas já não ia a tempo de nada.

Depois fazes Erasmus e mesmo assim não paraste de nadar. Aliás, só nessa altura é que competiste por outro clube que não a Sociedade Columbófila Cantanhedense, não foi?

Fui para Castellon e tudo o que eu fazia cá, fiz lá também. Inscrevi-me em aulas de jazz e no clube de natação e, curiosamente, fiz os meus melhores tempos. Em cinco meses de treino e apesar das diversões de Erasmus (risos), ainda vim de lá com uma boa média. Entretanto quando voltei a Portugal a natação ficou em stand by, até que em 2015 decidi voltar a treinar a sério. Estava a treinar como Master, mas andava a nadar bem. Diverti-me muito nessa época, porque estava a fazer aquilo que gostava. Ainda consegui ir ao Europeu em Londres e fui Campeão Nacional três vezes em Masters.

A natação termina quando vens para o Porto?

Sim, nunca mais voltei a nada a sério. Faço umas caminhas e umas corridas e pouco mais. Além disso, treinar aqui ficaria sempre mais caro. Em Cantanhede como fui o primeiro atleta campeão nacional pelo clube eles deixam-me entrar à pala (risos).

A natação é, normalmente, muito associada a uma grande disciplina e exigência de treino. O que é que a natação te trouxe para a tua vida? O que é que aprendeste?

É engraçado fazeres essa pergunta. O meu treinador falava sempre do Michael Phelps e Pedro Oliveira — um excelente atleta português da minha altura —, porque eles ficavam sempre sentados e muito quietos antes das provas. Estavam ali, mas estavam a visualizar a prova que iam fazer a seguir. Estavam a pensar que iam ter de dar x braçadas para lá, x braçadas para cá, a pensar que que iam ter de respirar aqui e ali, que tinham de tocar com as duas mãos… Há toda esta questão de consciencialização do processo. Isto é fundamental no ambiente empresarial. Sabermos o que vai acontecer e termos a capacidade de prever é muito importante. Portanto, treinar primeiro, prever aquilo que vai acontecer e a avaliação pós-prova para perceber onde é que devemos melhorar. Isto é muito muito importante numa empresa.

Quando fui campeão nacional treinava 23 horas por semana. Eu perdia um dia da semana para treinar.

E quanto tempo é que tu treinavas quando estavas no teu auge?

Quando fui campeão nacional treinava 23 horas por semana. Eu perdia um dia da semana para treinar (risos). Às sextas-feiras tinha treino às 7h00, entrava na escola às 8h30 e tinha aulas até às 18h20. Às 18h30 entrava outra vez dentro de água e só saía às 21h00. Depois tinha ensaio da Filarmónica e terminava lá para as 00h30. No dia seguinte às 8h00 estava a ter treino outra vez. E isto dava-me muito gozo! E faz-me falta hoje, digo-te.

Tens algum arrependimento na tua vida?

Do que fiz não me arrependo de nada, porque tudo me trouxe uma lição. Não sei se teria optado por fazer o tratamento à cara em troca de um bom rendimento na natação… A saúde está em primeiro lugar, claro, ainda para mais estar com a cabeça enfiada em cloro todos os dias não ajudava nada. Sinto que pode ter ficado um caminho maior na natação por fazer, mas é o que é.

Quais foram as pessoas que mais marcaram a tua vida?

Não vou falar dos meus pais e do meu irmão, porque isso é óbvio. A minha avó paterna, porque tinha um carinho enorme por ela. O Fritz, com quem cresci, e me ajudou muito quando estava a acabar o meu Mestrado. São duas pessoas que já não estão cá, mas que me transmitiram coisas muito importantes. E há outras pessoas também, por exemplo o Sr. Padilha que acreditou em mim, os meus treinadores em Cantanhede, o Paulo Ferreira e o Ricardo Antunes. E o Evaristo, mentor e maestro da OPUS 21 e da Banda de Cabanas de Viriato. Eu moro sozinho desde os meus 20 anos e sempre tive pessoas que me apoiaram muito e ampararam.

Qual é a primeira coisa que fazes quando acordas?

É abrir os olhos (risos). Piada típica. Bem, acho que é ir ver os destaques do jornal A Bola. Aliás, eu quando estava em Erasmus guiava-me pelo jornal A Bola para saber as notícias de Portugal.

Qual é o maior feito da tua vida até agora?

É estar aqui na UPTEC com uma empresa aberta. Espero que este feito se torne ainda maior. Podia dizer que foi ser campeão nacional ou ter tocado o 1812, mas acho que o maior feito é chegar aos 31 anos independente, ter crescido com quem cresci e como cresci e estar aqui feliz. Estou satisfeito com aquilo que estou a fazer.

Diz-me três coisas que queiras mesmo fazer na tua vida.

Ser feliz, ser saudável e ser sustentável.

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