José Valente: “Eu ainda tenho livros da escola onde escrevi que queria ser inventor.”

José Valente é portuense de gema — nasceu, cresceu e vive na cidade Invicta — e é alumnus da Faculdade de Engenharia da U. Porto, onde estudou Engenharia Eletrotécnica. Trabalhava numa outra empresa da UPTEC quando se apercebeu que conseguia e queria resolver outros problemas que ia encontrando. Despediu-se e esteve um ano a trabalhar numa tecnologia "incrível e que ia vender imenso", mas esqueceu-se de "ouvir o mercado primeiro". Em 2019 fundou a Azitek, uma empresa que monitoriza ativos importantes dos clientes, através de uma tecnologia de radiofrequência. Foi vice-campeão nacional de vela, foi a três campeonatos do mundo de barcos à vela autónomos, mas hoje é no padel que encontra a resposta para a sua faceta de competidor.

O que é a Azitek? Qual é a vossa tecnologia?

Nós temos uma solução integrada, através de uma tecnologia de radiofrequência, que monitoriza ativos importantes para uma empresa e desenvolvemos desde o hardware até à cloud. Temos, de certa forma, duas grandes aplicações: monitorizamos comboios logísticos e empilhadores em chão-de-fábrica e o que fazemos é digitalizar esse ativo que é fulcral para a produção, mas que ninguém está a medir onde é que ele está, nem onde é que está a perder mais tempo.

A outra aplicação é monitorizar todo o tipo de ativos, como paletes, bobines, caixas de plástico, carros, caixotes do lixo… No fundo, conseguimos seguir isto tudo sempre com o mesmo princípio. Esta parte é sempre mais customizada, porque as necessidades dos clientes são diferentes, obviamente.

A nossa plataforma dá dados muito reais ao cliente, como um heat map onde conseguem visualizar imediatamente onde é que o ativo demora mais tempo, por exemplo. Desenvolvemos funcionalidades que são visualmente atrativas para o cliente.

A vossa solução consegue adaptar-se a necessidades muito diferentes e específicas de cada cliente.

Sim, sem dúvida. No caso do Porto Ambiente — um cliente com quem temos trabalhado —, nós temos tagsem todos os caixotes do lixo da cidade, mas queríamos saber quando é que eram recolhidos. Então foi necessário adaptar o nosso hardware para ter um acelerómetro — uma coisa semelhante à que temos em todos os telemóveis — que deteta quando o caixote está virado. De forma aparentemente simples resolvemos este problema ao cliente, porque temos toda a tecnologia criada de raiz.

Portanto, as tags são um elemento fundamental para a vossa tecnologia.

Sim, são três partes: a tag que colocamos no ativo; as âncoras ou gateways são colocadas nos sítios — se quiseres ler todas as tags que estão aqui dentro, colocamos um gateway, que é tipo um router ou access point; e a cloud, onde são armazenados os dados.

Isto é mesmo aquela coisa de engenheiro de achar que a minha ideia é incrível e que vai vender imenso.

E como é que surgiu a Azitek? De onde veio esta ideia?

Vou começar mesmo pelo início (risos). Nós — eu e o Rui, o outro cofundador — estudámos Engenharia Eletrotécnica na Faculdade de Engenharia da U. Porto e depois do curso eu vim trabalhar para uma empresa da UPTEC — a Tekever — e ele continuou para o doutoramento. Na altura, eu estava a desenvolver telecomunicações para satélites — foi muito fixe, eu gostei imenso e aprendi mesmo muito. Sinceramente, eu nunca fui daquelas pessoas que têm o sonho de criar uma empresa, mas comecei a pensar que podia fazer mais coisas. No fundo, apercebi-me que tinha competências para resolver alguns problemas que estava a encontrar. Não podia ser mais ingénuo (risos). Isto é mesmo aquela coisa de engenheiro de achar que a minha ideia é incrível e que vai vender imenso (risos).

Estou a conseguir imaginar o teu pensamento na altura, sim (risos).

Claro, é o típico engenheiro (risos). Eu estive aí a trabalhar durante um ano e depois candidatei-me ao Startup Voucher, onde recebi salário durante um ano para desenvolver a minha ideia. Na altura, a ideia era uma tecnologia de tracking de alta precisão

Isso já com o Rui, certo? Ele está no projeto desde esses momentos?

Sim, sim, tudo com o Rui já. Ele tinha bolsa da FCT (Fundação para a Ciência e Tecnologia) de doutoramento e continuou a estudar, enquanto eu tinha esta bolsa e assim dava para explorar um pouco o que quiséssemos.

Voltando à ideia, o que é que começaram a desenvolver nessa altura?

Começámos a desenvolver um protótipo com a ideia de: os drones vão entrar dentro da indústria; para estarem dentro da indústria precisam mesmo de localizar-se de forma perfeita. E sem testar o mercado (risos), sem dizermos nada a ninguém (risos) — aquele clássico de engenheiros —, gastámos um ano a desenvolver uma tecnologia toda XPTO. E fizemos (risos)! Conseguimos a tecnologia!

… apercebemo-nos que, se calhar, o mercado não era assim tão grande e que talvez o nosso produto não tinha assim tanto interesse.

É nessa altura que vão à Web Summit e a coisa começa a ganhar forma, não?

Sim, sim. E nosso caso a Web Summit foi mesmo um daqueles momentos que fez toda a diferença. Nós já tínhamos ido antes ao Brasil ver esta ideia dos drones e apercebemo-nos que, se calhar, o mercado não era assim tão grande e que talvez o nosso produto não tinha assim tanto interesse (risos). Quando chegámos à Web Summit estávamos um pouco perdidos — estávamos a tentar perceber se aquilo fazia ou não sentido. Num dos pitches que fiz lá, veio um americano ter connosco e disse-nos “Isto é brutal! Se vocês vissem os parques gigantes de carros que existem e eles não sabem onde é que colocam os carros…”. Imagina, há parques com cinco mil carros e os responsáveis não sabem onde é que está cada viatura. Então voltámos para o Porto e fomos aos maiores parques de estacionamento aqui — que são junto ao aeroporto — perguntar se era efetivamente um problema para eles e percebemos que sim. Eles queriam saber se os carros estavam no parque, na estrada, se foram em test drives, se estavam em manutenção…

Além disso, também não dominavam nada bem a área do investimento e tiveram um boa ajuda na Web Summit.

Sem dúvida. Tivemos uma grande ajuda do João, da Armilar, que nos ajudou a estruturar as coisas. Ele chegou à nossa beira e disse: “O que vocês têm de fazer é provar a tecnologia, arranjar um cliente que vos pague e depois ir levantar investimento.”. Fez-nos quase uma to do list (risos).

E foram esses conselhos que seguiram?

Claro. Chegamos, conseguimos um cliente, vendemos, fomos à Portugal Ventures e conseguimos investimento.

Mas nesses momentos todos a ideia foi-se “alterando”, não?

Sim, aí já era monitorizar ativos importantes para empresas. Os carros podiam ser uma aplicação, mas podem ser outras coisas. No fundo, já estávamos a monitorizar ativos através de tecnologias de radiofrequência, ou seja, sem contacto e tudo automático e digital. Vimos que os carros eram um problema, mas encontrámos outros problemas na indústria, como a gestão de stock, por exemplo. Normalmente, esta gestão é feita de pessoas que picam com um leitor o bar code e leem cinco caixas — ou o que for — e dá entrada no sistema. A questão é que não tens visibilidade contínua e em tempo real. O que estás a fazer é tirar uma fotografia naquele momento, mas pode ter falhado uma caixa devido a erro humano… Podes ter 5% de erro em coisas que são críticas e o que quisemos foi tratar de tudo isto de forma automática.

E sei que há ainda uma outra ida à Web Summit que foi fundamental para vocês. Foi no ano seguinte?

Foi sim (risos). Por acaso a Web Summit para nós foi sempre muito importante. Nós estávamos lá com esta ideia da monitorização dos ativos e veio ter connosco uma pessoa da indústria, de chão-de-fábrica mesmo, e que nos falou do problema dos comboios logísticos. Eles queriam seguir estes comboios, controlá-los, saber onde é que estavam, mas não tinham maneira nenhuma e os sistemas que existiam eram caríssimos. Ele perguntou-nos: “Vocês não conseguiam adaptar a vossa tecnologia e ajudar-nos com este problema?”. E nós claro que dissemos que íamos tentar e como não estamos a adaptar uma tecnologia de outros, mas sim a nossa, foi muito mais simples. Fizemos algumas alterações, começámos a seguir os comboios logísticos e foi um sucesso, porque cumprimos com todos os requisitos deles.

Neste momento, quantas pessoas estão na Azitek?

Somos cinco. Nós temos tido uma política de tudo o que não é core fazemos outsourcing, por isso é que somos cinco engenheiros muito geeks (risos).

Antes de criar a empresa, estivemos um ano e tal a desenvolver um produto que não tinha interesse.

Qual foi o principal obstáculo ou dificuldade da Azitek até hoje?

É fácil: nós demorámos muito tempo até ouvir o mercado. Antes de criar a empresa, estivemos um ano e tal a desenvolver um produto que não tinha interesse (risos). Claro que esse produto é que nos levou a ter hoje uma tecnologia muito robusta, mas não deixa de ser esse o maior problema (risos). Nós passámos pela fase que muitas empresas passam de eu tenho uma tecnologia incrível, mas ainda não sei o que vou fazer com ela (risos).

Olhando para trás, quais foram os momentos-chave do percurso da Azitek?

Boa pergunta, acho que nunca pensei nisso (risos). Talvez a primeira vez que fomos ao Brasil e tivemos uma wake up call por termos estado a desenvolver a tecnologia sem ouvir o mercado (risos). Isto, em conjunto com a primeira ida à Web Summit — que foram momentos literalmente seguidos —, diria que foram muito importantes para percebermos que tínhamos de fazer as coisas ao contrário: ouvir o mercado primeiro e depois construir aquilo que eles querem.

Qual foi melhor momento da Azitek até agora?

Essa é difícil, porque tu estás sempre querer coisas diferentes. Normalmente quando acontecem as coisas que tu estavas à procura há muito tempo já não festejas muito, por dois motivos: já passou muito tempo desde que criaste aquele objetivo e, entretanto, já tens mais dois ou três objetivos na cabeça (risos). Quando fechas aquele cliente enorme já não festejas muito, porque já estavas à espera e já tinhas a cabeça na ronda que tens de fechar, por exemplo (risos). Comigo é sempre assim, pelo menos.

Procuramos festejar as pequenas coisas e com frequência, porque não queremos esperar só pelas coisas grandes.

Mas não há aí nenhum momento em que tenham aberto umas cervejas para festejar mais (risos)?

Há, claro. Sabes que nós somos poucos, por isso somos todos amigos. A parte das cervejas não precisa de grande motivo para nós (risos), aliás até temos frigorífico lá em cima mesmo para isso (risos). Mas agora mais a sério: procuramos festejar as pequenas coisas e com frequência, porque não queremos esperar só pelas coisas grandes.

E momentos menos bons? Já passaram alguma fase mais difícil?

Já tivemos muitos. Nesta primeira fase acontece muito tu teres dinheiro… e depois não teres (risos). Houve ali uma altura em que já não estava a trabalhar, já tinha terminado o Startup Voucher e ainda não tínhamos ido buscar o primeiro investimento… aí foi uma altura complicada. Estávamos sem meios para subsistir e tínhamos mesmo de fechar alguma coisa — acabei por conseguir uma bolsa de investigação que ajudou. Esses são os momentos de aperto e são os mais complicados de gerir.

E quem são os vossos clientes? Pelo que percebi podem ser das mais diversas áreas, não é?

Sim, é um bocado geral. Nós trabalhamos com a indústria, maioritariamente. Somos um projeto de inovação que digitaliza ativos que trabalha principalmente com a indústria — no fundo, tudo o que tenha linhas de produção e que precise de monitorizar alguns dos ativos. Além disso, temos também clientes na área da logística, porque também precisam destes dados que nós conseguimos dar. Trabalhamos com empresas de muitas áreas, na verdade, como a Porto Ambiente, Hutchinson, Bosch, Gestamp…

Essas multinacionais podem abrir-vos muitas portas para outros mercados.

Sim, a ideia é essa também. Neste momento estamos muito focados em Portugal, mas já temos um parceiro no Brasil e estamos já a fechar os primeiros clientes em Espanha. Estas grandes empresas têm fábricas em Portugal a utilizar o nosso sistema e que podem abrir grandes portas, porque todas elas têm mais de 100 fábricas no mundo — aliás, só a Bosch tem muitas mais. Se nós conseguimos ter uma solução boa aqui, também conseguimos ter nas outras fábricas espalhadas pelo mundo.

O que é que alteravas no percurso da Azitek?

Conhecia primeiro o mercado, ouvia os clientes, percebia qual era a necessidade e depois é que construía a tecnologia (risos).

Qual é o grande desafio para ti em fundar uma empresa?

Nós viemos de um background de engenharia, por isso diria que foi a absorção de todo este ecossistema de startups em que precisas de saber navegar. É importante saberes quais são as tuas prioridades de negócio e nós não tínhamos essas bases. Essa é uma grande dificuldade, mas também um desafio que aceitamos com agrado (risos). Outro desafio grande é perceberes o que é que tu queres para a empresa: queres levantar imenso dinheiro, queres fechar clientes, queres conseguir parceiros, queres escalar a equipa…? Esta é uma dificuldade de todas as empresas, acredito, porque estas decisões têm um impacto muito grande. É um jogo que temos de jogar.

Daqui a cinco ou dez anos onde é que nós vamos ver a Azitek?

Espero bem que já estejamos em toda a Europa, sem dúvida. O nosso sistema é virado para a indústria — e a indústria automóvel, por exemplo, é muito forte na Europa — e faz todo o sentido a nossa tecnologia estar em todas as fábricas, porque chegas a um ponto em que é indiferente se estás em Portugal ou noutro país qualquer. E também te digo que gostava de já estar nos Estados Unidos (risos). Lá o mercado é gigante e, segundo o que nos dizem, arriscam mais e são menos avessos à inovação. Será uma aposta grande e difícil, mas queremos lá chegar.

Nasceram em 2019 e pouco tempo depois veio a pandemia. Como é que vocês lidaram com isso?

Opá, foi muito chato, porque nós somos um projeto de inovação, ou seja, não é fulcral — ou melhor, é —, mas não é aquilo que te vai impedir ou permitir fabricar, portanto está naquela gaveta para quando houver tempo e dinheiro. A pandemia trouxe uma incerteza enorme e a primeira coisa que as empresas cortam é nos projetos de inovação, porque tu continuas a produzir sem eles. Sentimos um impacto muito grande, porque toda a gente nos dizia “agora não”.

Depois de ténis, surf, golfe, e alguns outros desportos, a equipa do Out of Office foi jogar padel e defrontar o José — o resultado não importa. Apesar de ter começado a jogar apenas na pandemia, o José joga três vezes por semana e tem aulas de padel no Top Padel. A vela foi o desporto que mais o conquistou, mas na faculdade teve de escolher e, como sempre soube que não ia ser velejador profissional, optou por se dedicar mais ao curso e aos "copos". A história diz que sempre quis ser inventor e teve dois professores que marcaram profundamente o seu percurso. Considera-se um "gajo casmurro" e, como bom portuense, não tem dúvidas quanto ao prato preferido: francesinha.

A vela é o teu hobbie mais antigo, mas é o padel que agora toma mais o teu tempo. Vamos lá atrás primeiro só para perceber como é que surgiu a vela e o padel na tua vida.

Eu pratico vela desde pequeno, levei aquilo muito a sério e fiz competição. Depois quando chegas à faculdade e é difícil manteres um desporto competitivo. Vela é um desporto que adoro e que sempre adorei.

O padel é mais recente e já olhas de outra forma, não é?

Sim, o padel veio com a pandemia. Não jogava até há bem pouco tempo, mas eu sou uma pessoa bastante competitiva, gosto de competição, gosto de ter um resultado… ir ao ginásio não é para mim (risos). Então comecei a jogar com um amigo — tal como todas as pessoas que começam a jogar padel (risos) — e é fixe, porque é um desporto que é fácil começares a jogar. Eu gostei muito do desporto e hoje em dia jogo três vezes por semana. Faz-me bem para descarregar a parte mental e o stress da semana e alio isso à parte mais competitiva que também me faz falta (risos).

Depois começas a jogar com o pessoal das aulas e quando dás por ti já entraste no ecossistema de padel da cidade do Porto.

O padel é aquele desporto que se joga com amigos, normalmente. Essa parte do convívio e do pré ou pós-jogo também é importante para ti?

Claro, claro. Eu comecei a jogar com amigos e depois inscrevi-me em aulas e consegui fazer ainda mais amigos (risos). Depois começas a jogar com o pessoal das aulas e quando dás por ti já entraste no ecossistema de padel da cidade do Porto (risos). E há sempre uma parte de convívio que é muito importante no padel: no final há sempre uns finos e conversas. Aliás, já tive reuniões de negócios com malta que conheci a jogar padel (risos).

Acredito que não queiras ser profissional do padel, mas a jogar três vezes por semana já acredito que consigas ter um bom resultado contra mim e a Isabel (risos). Tu já participaste em alguma competição?

Não quero ser profissional, não (risos). Já participei em vários torneios, mas daqueles amigáveis ou amadores. A ideia destes torneios é a diversão e isso é que é importante. Como eu já disse, eu gosto de competição e quando vou a estes torneios vou jogar para ganhar, mas há sempre malta que joga muito e fica difícil (risos).

Costumas jogar sempre com o mesmo parceiro e treinam juntos?

Não propriamente. Tenho várias pessoas com quem jogo regularmente, mas não tenho ninguém fixo.

Onde é que costumas jogar mais?

Eu tenho as minhas aulas no Top Padel da Zona Industrial e é lá que jogo a maior parte das vezes.

Tens assim algum jogador preferido? Costumas seguir o World Padel Tour?

Eu sou um bocado desleixado nisso (risos). O pessoal da minha aula vê tudo, acompanham, compram as cenas mais fixes e da moda… Eu talvez tenha outras coisas para pensar (risos). Claro que gosto de ver algumas coisas e principalmente os grandes jogos do World Padel Tour tento ver, principalmente porque agora percebo a dificuldade das coisas que eles fazem ali. Mas sinceramente não acompanho assim muito, por isso não tenho aquele jogador preferido para te dar (risos).

No fundo, colocas o padel num lugar presente na tua vida, mas o não fazes subir demasiado na hierarquia. No entanto, e pelo que percebi, com a vela não foi bem assim.

A vela é o desporto que eu fiz desde miúdo, participei em muitas competições, campeonatos e regatas, fui a muitos países, estive em Campeonatos Europeus, mas depois quando cheguei à faculdade tive de fazer escolhas. A vela passa-se muito ao fim de semana e eu também queria ir para os copos (risos). Eu gostava muito daquilo, mas não era o maior ás. O meu futuro não passava por ser velejador profissional, eu percebi isso.

Não foste velejador profissional, mas ainda trabalhaste como professor de vela.

Sim, sim. E ainda me ajudou muito no início da empresa, porque as aulas que dava sempre davam para ganhar algum dinheiro a fazer aquilo que gostava (risos). Esse income foi importante naquela altura (risos).

O vento, o mar, a corrente e todas as outras condições estão em constante mudança e tens de te conseguir adaptar a cada momento.

Qual é o teu melhor registo em competições?

Fui vice-campeão nacional. Eu nunca estive na vela a achar que ia ser o meu futuro, mas era algo que gostava e me dava prazer. Eu sou bastante competitivo, então levava aquilo muito a sério — mais do que estudar para a escola, admito (risos).

Desculpa a ignorância da minha pergunta, mas como é que tu pões o barco a andar na direção que queres (risos)? Como é que vocês conseguem aquilo?

É uma pergunta perfeitamente normal (risos). Tu tens de navegar o barco em função do vento e, no fundo, é uma corrida — chama-se regata —, onde tens de fazer o percurso no menor tempo possível. A questão é: para conseguires completar esse percurso tens de saber navegar com as condições do vento e do mar, que são sempre diferentes. O vento, o mar, a corrente e todas as outras condições estão em constante mudança e tens de te conseguir adaptar a cada momento. Depois claro, a componente técnica de condução do barco é o que te vai levar a andar mais ou menos rápido. É aí que tu vês os muito bons: treinam muitas horas e conseguem dominar o barco cada vez melhor.

Isso envolve mais trabalho de casa para estudares o vento e o mar naquele dia e naquele lugar ou é mais capacidade de te adaptares ao que está a acontecer no momento?

É mais no mar, sim.

A imagem que eu tenho de regatas é ver uma quantidade de barcos todos uns em cima dos outros perto daquelas boias que delimitam o percurso (risos).

A vela é um desporto de frota, por isso competem todos ao mesmo tempo. Do lado de fora parece tudo alta confusão — e às vezes é mesmo (risos) —, mas normalmente aquilo tem uma ordem e para quem percebe aquilo até tem um sentido (risos).

Tens alguém que tenha marcado muito a tua vida?

Sim, tenho. Tenho dois professores que fizeram a diferença no meu percurso. O meu professor de Física era um professor excecional que, além de ensinar mesmo muito bem, olhava para os alunos e procurava encontrar o potencial deles. Eu nessa altura só via vela à frente e ele é que me pôs na cabeça que podia ir para Eletro e que até podia correr bem se me esforçasse. Logo a seguir, mas já na FEUP, tive um professor que também fazia vela — o Prof. José Carlos Alves — e que, mais uma vez, era um ótimo professor. Além disso, ele convidou-me para um projeto de um barco à vela autónomo que ele tinha, ou seja, juntava as duas coisas que eu mais adorava: a eletrónica/robótica e a vela. Fomos, inclusivamente, a três Campeonatos do Mundo de Barcos à Vela Autónomos (risos).

Eu ainda tenho livros da escola onde escrevi que queria ser inventor.

Quando eras criança já querias ser engenheiro?

Sim, por acaso sim (risos). Eu ainda tenho livros da escola onde escrevi que queria ser inventor (risos).

Qual é o teu prato preferido?

Francesinha, sem dúvida alguma.

Qual é o teu género de filmes/séries?

Gosto imenso de ficção científica. Eu sou daqueles gajos mesmo geek (risos). Gosto de fantasia, tipo os filmes da Marvel, por exemplo. Adoro ir ao cinema, eu e a minha namorada vamos imenso ao cinema. Gosto de sair do mundo com uma boa história.

E livros?

Olha, ultimamente só tenho lido livros mais técnicos sobre startups, gestão de pessoas… É trabalho, mas não me importo, porque são temas que gosto.

Qual é o teu maior defeito?

Opá, sou um gajo mesmo casmurro (risos). Acho que estou a melhorar e estou a esforçar-me para isso (risos).

E qualidade?

A competitividade que te falei há pouco. Eu sou louco por eficiência e gosto de fazer tudo da maneira mais eficiente, o que é, de certa forma, preguiçoso (risos) — eu sou o clássico de engenheiro (risos). Mas a minha cena da competição ajuda e puxa-te para fazeres sempre mais e melhor.

Diz-me uma coisa que queiras mesmo fazer na vida e ainda não fizeste.

Quero continuar a viajar e ir até à Ásia.

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