Joana Maia: “Estávamos a participar num projeto para os Óscares e a rede estava bloqueada para todo o mundo, menos para o nosso escritório.”

Apesar da sua formação ter sido na Faculdade de Letras da U. Porto, Joana Maia é cofundadora da mediagaps, uma software house dedicada aos média. Já estudou as várias áreas da gestão de uma empresa, mas é da burocracia que menos gosta. Conta com um Emmy no curriculum — sim, um Emmy — e a equipa é o fator fundamental do sucesso da mediagaps. O Natal é a sua época preferida do ano e tudo começou num trabalho de duas semanas a fazer decorações de Natal. A ética de trabalho e a importância da família são os motivos pelos quais o seu avô foi quem mais a marcou.

O que é mediagaps?

A mediagaps é uma software house, só que é bastante especializada numa área bem atrativa: a área da televisão e produção e eventos televisivos. Tal como o nome indica — mediagaps —, nós tentamos preencher os gaps (falhas) que existem entre equipamentos, câmaras, servidores de arquivo de vídeo… fazemos uma ponte entre várias áreas.

Quando é que surge a empresa?

Nós começámos em 2013. Surgimos numa ótica um bocadinho diferente da maioria das empresas aqui da UPTEC, porque não começamos com o produto, mas sim com serviços. Serviços que nos permitiram fazer auscultação ao mercado e procurar qual era o nosso produto. Ainda estamos nessa descoberta, até porque as coisas decorreram mais lentamente do que o que nós achávamos, mas ainda cá estamos (risos) na procura do melhor product-fit.

Ora, e quem são os clientes da mediagaps? São os programas de televisão?

Nós não trabalhamos com programas de televisão, mas sim com as empresas que fazem a produção e pós-produção, nomeadamente de reality shows, por exemplo. Trabalhamos com grupos como a Endemol e outros do género.

E quais são os mais reality shows mais conhecidos com que trabalham?

Love Island, por exemplo. É um reality show inglês e australiano, há nos dois países. É algo muito interessante — ou não (risos). Too Hot to Handle que é da Netflix e é do mesmo género (risos). Além destas coisas mais esquisitas (risos), temos também participações em Óscares, MTV Video Awards e Emmys.

“Estávamos a participar num projeto para os Óscares e a rede estava bloqueada para todo o mundo, menos para o nosso escritório .”

Participações em grandes eventos à escala mundial, mesmo.

Sim, sim. Por acaso temos uma situação muito engraçada. Estávamos a participar num projeto para os Óscares e a rede estava bloqueada para todo o mundo, menos para o nosso escritório para nós conseguirmos ver os ensaios.

Então assistiram em primeiríssima mão a tudo?

Sim, sim (risos). Foi ainda mais curioso, porque foi no ano em que ganhou o Leonardo Di Caprio. Ele já perseguia o prémio há tanto tempo e, nesse ano, nós estávamos a assistir ao anúncio — em versão ensaio — do Óscar dele.

Sei que há por aí um Emmy, também.

É verdade. Participamos com um cliente na produção do Grease, o musical. Esse show foi premiado com um Emmy e, por isso, os nossos nomes também estão lá. No nosso escritório temos essa referência — está em meu nome — e eu costumo dizer que isso descredibiliza qualquer Emmy (risos).

A mediagaps tem, nesta altura, quase oito anos. Consegue identificar quais foram os momentos mais marcantes deste caminho já percorrido?

O momento fulcral foi mesmo quando decidimos iniciar a empresa. Tudo o resto fluiu muito naturalmente, acho. Diria que foi mesmo darmos o primeiro passo de criar a empresa, porque quer eu, quer o Paulo Costa — o outro cofundador da mediagaps — tínhamos um emprego estável e saímos para nos aventurarmos em algo bastante incerto.

E momentos menos positivos? Houve alturas mais complicadas na empresa?

O nosso objetivo quando começámos com serviços era, também, ter uma equipa core. Contratar as pessoas certas e que nos possibilitasse dar resposta a esse produto que nós queríamos para o mercado, por isso a nossa aposta foi sempre nas pessoas. Quando as coisas não resultam bem com as pessoas é sempre um momento menos bom. No fundo, diria que os momentos menos bons são aqueles em que as pessoas decidem ir embora ou quando não correspondem às nossas expectativas.

“Foi isso que nos aconteceu este ano, porque tudo o que tínhamos pensado para 2020 foi largamente adaptado.”

E daqui a cinco ou dez anos onde é que vamos ver a mediagaps?

Acho que já não devemos estar na UPTEC, não sei (risos)… Já estamos aqui há algum tempo (risos). Essa é uma boa pergunta, porque se me perguntassem isso no ano passado eu tinha uma resposta para dar. Neste momento, é difícil. Há cinco anos se fizessem essa pergunta a alguém, acho que ninguém ia responder que este ano íamos estar com uma pandemia (risos). Na minha opinião, as startups e algumas empresas do género têm flexibilidade para mudar os planos e flexibilizar-se. Foi isso que nos aconteceu este ano, porque tudo o que tínhamos pensado para 2020 foi largamente adaptado. Ora, daqui a cinco anos eu não sei o que hei de responder (risos). O ano de 2020 não é bom para esse tipo de perguntas (risos). No entanto, a perspetiva claro que será sempre numa ótica de crescimento de pessoas, isso sim.

Quantas pessoas é que trabalham atualmente na mediagaps?

Nós somos seis, neste momento.

De que forma é que a pandemia da COVID-19 afetou a empresa?

Nós trabalhamos para a área de media entertainment, que foi uma das áreas mais afetadas. Por exemplo, a produção de eventos televisivos foi toda ela cancelada. Os nossos clientes trabalham direta ou indiretamente com produção de eventos televisivos, logo sentimos algum impacto. Felizmente, foi temporário.

E relativamente à equipa? Como enfrentaram este momento?

Não houve alteração nenhuma, mantivemos todo o pessoal e continuamos com projetos. Nós tínhamos sustentabilidade financeira para podermos continuar com os projetos internos, apesar de alguns trabalhos com clientes terem ficado on hold. Fomos todos, claro está, para teletrabalho e nesse ponto somos muito heterogéneos por cá: uns parece que desejaram isto a vida toda, outros sentem-se enclausurados (risos). Apesar disso, toda a gente respondeu muito bem e a capacidade de adaptabilidade de toda equipa ficou demonstrada.

Olhando para trás, o que é que alterava no percurso da mediagaps?

Não alterava nada. Sinceramente, não alterava nada. Diria que tudo foi um belo alinhamento de estrelas (risos). Mesmo aqueles pequenos percalços com a equipa contribuíram para o nosso crescimento.

Qual foi o fator mais decisivo para o crescimento da empresa?

Ter, nos últimos dois/três anos, uma equipa em quem podemos confiar. No fundo, termos a equipa certa para trabalhar.

E qual é o grande desafio de ter uma startup?

Para mim é lidar com toda a burocracia (risos). Sou eu que trato dessa parte e desfoca muito do interesse principal que é o negócio.

O Natal é uma época diferente para todos, mas Joana vive o Natal de forma particularmente intensa. A família e a união são os valores natalícios mais importantes, acredita no equilíbrio entre a vida profissional e familiar e o seu dia preferido da semana é a sexta-feira. Considera-se uma pessoa teimosa, mas com capacidade de ouvir e quer viajar muito mais, porque já tem saudades de andar de avião.

Pelo que sei, a Joana vive o Natal e toda esta altura de uma forma um bocadinho diferente. Esta é a sua época preferida do ano?

Sim, sim. É a preferida e a não-preferida, porque é a que dá mais trabalho (risos). Eu envolvo-me no Natal a 100%. A minha história com o Natal já é um bocadinho antiga (risos).

Então como é que tudo começou?

Quando eu terminei o curso, o emprego, na altura, não estava fácil. Então, em novembro eu comecei a trabalhar e a fazer decorações de Natal nos shoppings da zona Norte. Só trabalhei lá cerca de duas semanas, mas foi das coisas que mais gostei de fazer — apesar de trabalhar de noite. O meu maior envolvimento com o Natal começou nessa altura.

Agora já não decora shoppings, mas continua muito envolvida com o Natal.

Sim, sim (risos). Ainda adoro decorar a minha casa. Além disso, tenho um filho de 12 anos, e, desde a pré-escola, acompanho-o na escola em todas as atividades de Natal.

DR: Tiago Ilharco
Se já tem 12 anos essa fase está quase a acabar, não (risos)?

Não, não (risos). Esta mãe não desiste. Enquanto a escola de me deixar, eu estarei lá e o espírito natalício não passa (risos).

Este ano é um bocadinho diferente, com certeza.

Sim, claro. Normalmente, a escola faz sempre algumas atividades, como a Mesa de Natal, por exemplo, e acho que é sempre um momento diferente. Mais do que dar alguma coisa, é um momento de união entre pessoas — naquele caso entre pais, professores e escola. E acho que o Natal é um bom pretexto para nos lembrar da união.

O que é que mais a faz gostar do Natal?

Eu sempre gostei muito desta época, por todos os valores inerentes, nomeadamente o valor da família. Independentemente de estarmos a falar de uma festividade religiosa, eu sempre vi o Natal como um momento de união — seja na família, amigos ou até na empresa. Esta é uma altura em que todos valorizamos a união.

E como é que costuma ser o seu Natal?

São sempre passados em família, normalmente em minha casa. Este ano será bastante mais restrito, porque não inclui tios, primos e afins. A recordação que tenho do Natal é do dia 24 passado nuns avós e o 25 passava com os outros avós. Tínhamos, também, uma tradição que era ter as prendas no sapatinho, que, aliás, mantemos. Agora deixamos o sapatinho na lareira — antigamente não tínhamos lareira — e no dia 25 lá estão as nossas prendas. É sempre uma festa: recebemos no dia 24 o Pai Natal e no dia 25 temos as prendas no sapatinho (risos).

“Na empresa acreditamos muito no equilíbrio entre trabalho e casa, família, tempos livres…”

Qual é o seu dia preferido da semana?

É sexta-feira, claro. Eu não vou ser hipócrita (risos). Na empresa acreditamos muito no equilíbrio entre trabalho e casa, família, tempos livres… Acreditamos mesmo que não é preciso andar num stress constante de trabalho, por isso a sexta-feira é um excelente dia.

Tem alguma pessoa que tenha marcado especialmente a sua vida?

Sim, tenho, sem dúvida. O meu avô — é um bocado complicado falar sobre isso. O meu avô tinha uma empresa de sinais de trânsito e, nos seus tempos, não era um empreendedor, era um fazedor. Começou o negócio e foi bem-sucedido. Tinha uma ética de trabalho bastante forte e a família era, também, o seu foco principal. Sem dúvida, o meu avô marcou-me muito.

Qual é o seu maior defeito?

Sou teimosa, bastante teimosa (risos), mas não sou orgulhos ao ponto de não mudar a minha opinião. Sou teimosa, mas consigo mudar a minha opinião se me derem argumentos fortes e inteligentes.

E qualidade?

Olha, é essa parte (risos) de ser flexível. Não sou orgulhosa ao ponto de não mudar de opinião. Ah, e tenho capacidade de ouvir.

Tem alguma coisa que não fez e acha que já devia ter feito?

Não. É engraçado, porque quando estava a estudar concorri, por brincadeira, a Erasmus, mas achava que não ia conseguir — normalmente é o que eu faço (risos). Na altura, não sabia muito bem se ia ou se queria ir — acho que era mais isso — e uma amiga minha que tinha também concorrido, mas não tinha sido selecionada, disse-me algo que me marcou bastante: “Não te arrependas do que deixaste por fazer, arrepende-te do que fazes”. O meu lema é fazer e se me arrepender é porque fiz (risos). Normalmente, não deixo nada por fazer.

O que gostava de fazer mais vezes — ou que ainda não tenha feito — ao longo da sua vida?

Viajar. Adoro viajar e já tenho muitas saudades de andar de avião (risos). Ainda por cima eu vivo ao lado do Aeroporto Francisco Sá Carneiro e até já sinto falta do barulho dos aviões (risos). Eu gosto muito de trabalhar com diferentes países — e o nosso mercado é internacional — e diferentes culturas, por isso o meu foco sempre foi muito viajar. Ainda tenho muito para viajar e para visitar (risos).

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