Carolina Bianchi: “Eu não quero liderar um projeto onde as pessoas têm de mudar quem são.”

Carolina Bianchi nasceu, cresceu e estudou em São Paulo, apesar de se arrepender não ter saído de lá mais cedo. Já viveu em França e vive em Portugal, mas foi na Palestina que a sua personalidade mudou radicalmente. Cofundou orgulhosamente a Mudatuga, uma startup de impacto social que quer criar o compostor mais sustentável do mundo, e todos os dias procura "ser quem é" na sua empresa. Carolina é uma apaixonada pela cozinha, é vegana há dez anos e abriu a porta de casa ao Out of Office com uns bolinhos de canela.

O que é a Mudatuga? Fala-nos sobre o teu projeto.

A Mudatuga é uma startup de inovação para a compostagem. Nós somos mais do que uma empresa, somos um movimento, porque a nossa missão é transformar pessoas comuns em ninjas da compostagem. Decidimos, justamente, começar pela educação ambiental, ou seja, no primeiro ano, praticamente, só fizemos workshops, consultoria, palestras e formações para ensinarmos as pessoas a fazerem compostagem. Depois abrimos, de facto, a empresa e começamos a fazer a revenda — temos produtos e vendemos na loja online. Agora começamos, também, a ser convidados para fazer alguns projetos com câmaras municipais para fazermos as nossas formações com alguns munícipes. Em Portugal não há muita oferta na formação de compostagem para apartamento. Além disso, a Mudatuga quer ir mais além e estamos a tentar criar o compostor mais sustentável do mundo.

A Mudatuga não só não gosta de fazer só uma coisa, como sonha em grande (risos).

Sim, é verdade (risos). A nossa ideia surgiu em março de 2020 — em plena pandemia —, começamos a estruturar tudo em maio e em julho conseguimos o apoio do Startup Voucher e incubamos em outubro do ano passado. Houve ali uma altura em que estávamos a testar e a tentar entender o que queríamos fazer. E foi aí que percebemos que todos os compostores que existem em Portugal e na Europa são feitos por empresas de tupperware (risos). Claro que eles não sabem instruir as pessoas, dar formação, os manuais são péssimos… além de todo o greenwashing que sabemos que existe. A missão destas empresas não está alinhada com os valores da compostagem e aventuramo-nos por aqui também (risos). Como viste, a Mudatuga faz um milhão de coisas (risos).

A malta misturava plástico com outras coisas, não reciclavam, tinham preguiça… atenção que eles são dos meus melhores amigos e eu gosto imenso deles (risos)!

O projeto surgiu em março de 2020, mas quando é que começou a aparecer na tua cabeça algo sobre isto?

A primeira vez que pensei nisto, ainda não era a Mudatuga, eu morava numa outra casa. Surgiu numa briga entre membros da casa (risos). Eu estava muito chateada, porque tínhamos um jardim e não fazíamos compostagem — e não fazia sentido nenhum! Tentei conversar com eles, mas a malta misturava plástico com outras coisas, não reciclavam, tinham preguiça… atenção que eles são dos meus melhores amigos e eu gosto imenso deles (risos)! Eles precisavam mesmo de mudar a mentalidade! Quando começou a pandemia eu fiquei desempregada e no confinamento quis sair de Portugal. Eu estava prestes a ir trabalhar para o Botânico como educadora ambiental e eles cancelaram, por isso achava que não devia ficar cá. Ao mesmo tempo, pensei em pegar nesta ideia que sempre tive e estruturá-la — comecei a pensar melhor nas coisas aí. O nome Mudatuga surgiu em abril quando eu estava a tomar banho (risos) e eu pensei “está aqui uma ótima hashtag” (risos). Os meus colegas Júlia, José Pedro e Luana gostaram muito do nome e seguimos assim (risos).

Pelo que estou a perceber, criar a tua própria empresa nunca foi um objetivo teu, pois não?

Não, não. Eu nunca quis ser empreendedora. Eu criei o meu negócio por necessidade, quando fiquei desempregada. Tinha uma ideia, havia um financiamento aberto e tentei (risos). Estou aqui sem fazer nada… (risos). E deu certo! Nunca pensei que fosse correr bem, porque eu tenho zero experiência em business, eu sempre fui uma pessoa do ativismo. Eu pensava que as empresas eram horríveis (risos), porque eu só conheci o conceito de social business depois. Nessa altura estava à procura de perceber como é que eu podia ter um negócio que não ferisse a minha ética pessoal — aliás, os meus amigos ficaram chocados quando souberem que eu criei uma empresa (risos).

Mas há empresas e empresas, não é?

Claro. A Mudatuga está conectada a um programa chamado Nurturing Social Business, que nos dá sete princípios que queremos mesmo seguir. Um dos princípios, por exemplo, é a não partilha de lucros e estamos com muita dificuldade em encontrar os investidores que queremos. Vamos partir agora para investidores internacionais para tentar trazer dinheiro de fora, porque em Portugal os investidores não estão preparados para este tipo de investimento. Eu não quero que o nosso compostor vire uma coisa de dinheiro. Eu sei que é utópico, mas eu sou uma pessoa muito utópica (risos).

Eu não quero que o nosso compostor vire uma coisa de dinheiro. Eu sei que é utópico, mas eu sou uma pessoa muito utópica.

Conta-me como é que funciona o vosso compostor.

O Compostuga é um balde hermeticamente fechado. Para utilizares, todos os dias deves juntar os teus resíduos orgânicos num balde e, no final dia, abres o Compostuga, atiras os teus resíduos, amassas com muita força e colocas um bocado de farelo fermentador — que é cheio de micro-organismos eficientes. Tens de fazer isto diariamente, assim como a drenagem do líquido. Quando o balde estiver cheio não fazes nada durante duas semanas, depois disso está tudo fermentado e podes fazer muitas coisas: misturar com terra, oferecer a amigos com jardim, levar a uma horta comunitária, entregar a um agricultor biológico…

Isso parece-me bastante simples. A desculpa de ser muito ocupado não cola para não fazer compostagem (risos).

Não, não (risos). É muito fácil mesmo.

Quantas pessoas é que estão a trabalhar na Mudatuga?

Eu sou cofundadora do projeto e quando começamos éramos quatro pessoas. Aliás, o projeto começou entre mim e a Júlia — que é a minha melhor amiga de infância —, depois o Zé Pedro juntou-se e depois a Luana. Houve já algumas alterações e, neste momento, a full time estou eu e a Francisca e a Ana que apoia mais a parte das redes sociais. A Júlia continua a ajudar muito com dicas de negócio, também. Ela trabalha em Nova Iorque, mas sempre que pode dá-nos uma ajuda muito valiosa.

Quando conseguimos passar da Final Europeia à Final Global foi muito importante, porque foi uma validação da ideia — percebi que não estava maluca e o projeto tinha valor.

Apesar do percurso ainda curto da empresa, quais foram os momentos-chave até agora?

Em 2021 foi claramente o ClimateLaunchpad. Quando conseguimos passar da Final Europeia à Final Global foi muito importante, porque foi uma validação da ideia — percebi que não estava maluca e o projeto tinha valor (risos). Outro momento fundamental foi ter o projeto do Fundo Ambiental aprovado, porque concorreram centenas de projetos e foram aprovados pouquíssimos — conseguimos com isso fazer uma Escola de Verão com mais de mil inscritos. Além disso, algumas formações pontuais que me convidaram para fazer, ir à televisão… São momentos que nos ajudam a passar a palavra.

Tiveste, pelo contrário, alguns momentos menos positivos?

Nossa, vários (risos). O pior foi o stress de constituir mesmo a empresa, porque tivemos muitas dúvidas nalgumas questões. Quando a Luana saiu claramente foi uma grande perda, mas é normal as pessoas não ficarem para sempre numa empresa.

Por isso é que te digo que é muito importante para mim poder ser quem eu sou.

E pessoalmente também não é fácil lidar com essas coisas, claro.

Não é mesmo. Por exemplo, um dos dias mais tristes desde que cá cheguei foi quando estava desempregada. Eu fui ao IEFP e disseram-me que eu estava desempregada, porque era brasileira e ainda não tinha absorvido a cultura europeia. Eu pensei “vou-me embora, não estou aqui a fazer nada”. Perguntei-me se era burra ou se a cultura era assim tão diferente de aprender… Já trabalhei em shoppings, call centres… Já fiz muita coisa onde tive de me adaptar e, talvez, ser uma pessoa que não sou. Por isso é que te digo que é muito importante para mim poder ser quem eu sou.

Voltando à Mudatuga, onde é que vocês querem chegar? Quem são os vossos clientes?

Temos clientes particulares — que participaram em workshops ou que que compram na loja online — e os clientes B2C — por exemplo, empresas com quem trabalhamos, dei formações a funcionários de uma câmara também… Nós queremos ter o nosso próprio compostor — quando estiver pronto — e fazer uma parceria com os municípios para conseguirmos distribuir fazer piloto à nossa maneira, porque queremos fazer uma coisa mesmo diferente. Claro que quero chegar a muitas casas também, mas gostava de desafiar uma câmara a sair da caixa e fazer uma parceria deste género connosco.

Onde é que vais querer ver a Mudatuga daqui a uns dez anos?

Gostava que a Mudatuga tivesse uma espécie de sede em cada cidade de Portugal, numa espécie de horta urbana, movimento comunitário… Não quero criar lojas, mas sim algo como um café lixo zero com jardim e compostores. Eu não vejo nunca a Mudatuga a valer 300 milhões de euros e a empregar 1000 pessoas. Não é isso que eu quero. Queremos ter impacto social e os números que nos preocupam são os de lixo nos aterros. Se mudarmos esse número estamos a fazer o nosso trabalho.

Olhando para o percurso da Mudatuga, mudavas alguma coisa do que fizeste até aqui?

Eu queria ter feito muita coisa diferente, mas, ao mesmo tempo, se não tivesse feito assim eu hoje não estava aqui… Por isso, não, não mudava nada (risos). Ah, mudava sim! Tinha tirado férias para descansar enquanto não era muito ocupada (risos). Eu não fazia ideia que algum dia iria ser uma pessoa ocupada (risos).

Eu não quero liderar um projeto onde as pessoas têm de mudar quem são.

Qual é que consideras ser o maior desafio de liderar uma empresa?

É não tentar ser o que as pessoas querem que eu seja. Ao longo deste percurso percebi que algumas vezes estava a fazer coisas que os outros achavam bem, mas eu quero ser eu mesma. Quero falar com o meu sotaque, fazer um vídeo de ninja e postar nas redes sociais… Eu não quero liderar um projeto onde as pessoas têm de mudar quem são.

Carolina abriu as portas de casa com bolinhos de canelas para receber a equipa do Out of Office, porque sempre que recebe alguém "é uma oportunidade para fazer um bolinho". Sempre gostou de cozinhar, mas desde que se tornou vegana que aprimorou — e muito — a arte. Associativismo, movimentos sociais e causas sempre a moveram e trouxe-nos até ao Jardim Botânico da Universidade de Coimbra, porque é onde gosta de respirar e de tomar decisões. Já viveu em muitos países, mas não fecha a porta a uma vida no Laos ou no Cambodja,

Quando te perguntei acerca dos teus hobbies disseste que a Mudatuga “matou tudo” (risos). Apesar disso, o teu gosto pela cozinha vegana não se foi embora e estás prestes a completar 10 anos de vegana. Como é que surgiu esse estilo de vida?

Se eu não tivesse feito Biologia isto nunca teria acontecido, porque no primeiro semestre eu tive de abrir todos os animais do mundo. Isto mexeu com o meu estômago e virei vegetariana. Deixei de comer carne e nem sabia que os veganos existiam (risos). Em 2011, enviaram-me um blog de uma mulher vegana que era mega ativista e eu sempre fiz parte de movimentos e questões sociais. Fiquei viciada naquele blog e lia todos os posts daquela mulher, inclusivamente as suas receitas veganas. Comecei a cozinhar estes pratos e em 2012 tornei-me vegana. Nessa altura foi uma grande revolução lá em casa (risos). E depois disso a minha irmã tornou-se vegana, assim como algumas amigas da faculdade (risos).

Foste convertendo as pessoas à tua volta (risos).

Sim, sim. Eu digo que tenho talento para converter as pessoas (risos), por isso vou tornar toda a gente ninjas da compostagem.

Sempre foste uma mulher de causas, não é?

Sim, sempre. Estive envolvida com Direitos Humanos, Direitos dos Animais, fui voluntária em ONGs, fiz parte de muito movimentos associativos…

Até a minha avó conseguiu reinventar-se e fazer o coral vegano que eu gosto tanto!

E quais foram as principais mudanças desde que te tornaste vegana?

Na minha vida, por exemplo, foi em tudo o que é cosmético. Não uso nada testado em animais, passei a ler todos os rótulos e hoje eu sei de cor muito rótulos (risos). A questão da redução do lixo, comprar coisas em segunda mão… A minha mãe é uma santa. Aturou isto tudo e adaptou todas as melhores receitas para vegana. Até a minha avó conseguiu reinventar-se e fazer o coral vegano que eu gosto tanto!

Tu és uma exímia cozinheira por causa da necessidade de cozinhares os teus pratos ou sempre gostaste de cozinhar?

Eu sempre amei cozinhar. Sempre. Eu adoro fazer massa: pizza, pão, doces, pastelaria…  Quando eu era novinha e me tornei vegana eu tinha a certeza que um dia eu ia abrir uma pastelaria vegana. Entretanto abriram uma e já ganharam milhares de reais por lá, por isso já não vou a tempo (risos). Mas eu lembro-me de ter uns 7 ou 8 anos e fazer pão com o meu pai e temos essa ligação emocional muito forte. Ainda hoje sempre que faço pão ou algo do género envio fotos para ele. Eu gostava de cozinhar todos os doces que a minha avó fazia também (risos). Quando virei vegetariana passei a cozinhar mais para não ter de depender dos outros e quando virei vegana passei a cozinhar de tudo. Já fui muito mais radical em querer cozinhar tudo o que como, agora às vezes compro umas comidas veganas já pré-cozinhadas.

Isso dava-te imenso trabalho, não?

Sim, muito mesmo (risos). A receita mais extrema que eu fiz foi fondue de queijo — vegano obviamente —, que só fiz uma vez e disse para nunca mais (risos). Precisavas de fazer creme de castanhas, fermentado com água de quinoa durante sete dias… Era uma coisa maluca (risos)! Demorei uma semana, ficou muito bom, valeu a pena, mas pensei “não, isto não dá; é muito tempo” (risos)! Eu gosto imenso de cozinhar e garanto-te que todo o tempo que eu não estou a trabalhar, eu vou para a cozinha e ponho uma música. Aliás, os amigos com quem já vivi falam sempre de alguns pratos que eu fazia… E sempre que vem alguém a minha casa eu vejo como uma oportunidade de fazer um bolinho — e é por isso que eu digo que sou uma velha de 80 anos por dentro (risos).

E quais são as tuas especialidades?

Modéstia à parte, vou dizer-te os pratos que acho que são mesmo bons (risos). Quando eu quero impressionar mesmo alguém faço gnocchi de espinafres. Aliás, o meu namorado quando vê este prato diz “nossa, aconteceu alguma coisa hoje” (risos). Eu cresci com a minha mãe a fazer este prato, porque a minha família tem uma parte italiana, então tem também um significado de herança familiar. Ah, eu também gosto de fazer doces e talvez o melhor seja a minha torta de limão.

Criámos um projeto de plantas que se chamava A Nossa Casa é Verde, que era especialmente dedicado para crianças com dificuldades auditivas — foi a melhor coisa que eu fiz antes da Mudatuga.

Trouxeste-nos até ao Jardim Botânico. Por que é que escolheste este sítio?

Eu sempre fui muito apaixonada por plantas e o Jardim Botânico da Universidade de Coimbra é um lugar que é perto de casa e sempre que preciso de respirar é para cá que eu venho. É um lugar muito simbólico para mim, até porque já tomei várias decisões de vida aqui. Adoro, por exemplo, a Alameda das Tílias. Quando cheguei a Portugal, o meu primeiro trabalho/estágio foi aqui também. Juntei-me à comunicadora de ciência do Jardim Botânico e criámos um projeto de plantas que se chamava A Nossa Casa é Verde, que era especialmente dedicado para crianças com dificuldades auditivas — foi a melhor coisa que eu fiz antes da Mudatuga. Tive de aprender Língua Gestual Portuguesa, criar jogos educativos e adaptar-me e isso foi muito fixe! E tudo isso me faz gostar muito deste jardim.

Pensas na vida e tens ideias para a Mudatuga nestes passeios?

Muitas! Eu tenho ziliões de áudios no telemóvel com ideias que vou gravando para não me esquecer. São momentos de grande criatividade. O Rap da Minhoca surgiu assim (risos).

Deixa-me voltar um bocadinho mais atrás e perguntar-te sobre o teu percurso académico, porque acho que tem muita influência na tua vida, não? Os movimentos, o associativismo, as causas sociais...

Eu estudei Biologia, na Universidade de São Paulo e desde o início sempre me envolvi muito com as causa académicas e ambientais. Eu fiz parte de todos os clubes possíveis e era super megalomaníaca (risos). Aliás, já nessa altura eu tinha colegas que faziam compostagem em casa, e em 2010, no meu primeiro ano da faculdade, comprei o meu primeiro compostor.

E depois da licenciatura foste para França, não foi?

Sim, fiz uma especialização na Universidade de Rennes, sobre Património Natural e Biodiversidade, e só depois fiz a Pós-Graduação na Universidade de Coimbra em Dinâmicas Socias e Riscos Naturais e Tecnológicos. Basicamente estudamos coisa tipo Discovery Channel — tipo catástrofes e assim —, mas foi nessa altura que me despertaram muitas coisas. Fiz uma cadeira sobre riscos ambientais em Portugal e eu percebi mesmo que havia muitas coisas atrasadas por cá, como os aterros, por exemplo. Quando eu cheguei cá, fiquei muito dececionada, porque as pessoas nem a reciclagem conseguiam fazer direito nas casas onde eu vivi. Por isso, a questão da compostagem estava ainda mais atrasada. Eu estava habituada a fazer compostagem há sete anos e quando cheguei cá ninguém fazia compostagem.

Tens alguma pessoa que tenha marcado muito a tua vida?

Nossa, tenho. Muita gente marcou a minha vida, mas talvez responda a Sandra, que é aquela mulher que tem um blog vegano que te falei. Ela mudou para sempre a minha vida. Entretanto eu tive a oportunidade de a conhecer, porque fui trabalhar com ela no Médio Oriente. Ela abriu-me os olhos para coisas que eu nunca tinha pensado. É uma pessoa muito revolucionária.

Estive em Belém e na Jordânia, onde trabalhei com Direitos Humanos e agricultura orgânica. Foram seis meses que me traumatizaram e mudaram a minha vida.

Mas como é que foste parar ao Médio Oriente?

Resumidamente, nasci e cresci em São Paulo, quando estava na faculdade ganhei uma bolsa para ir estudar para França e voltei para o Brasil novamente. No final de 2015, tirei um mês de férias — porque estava mega cansada — e fui para a Palestina e foi aí que dei o meu maior shift de mentalidade. Eu fui conhecer a Sandra, como disse. Eu lia o blog dela há três anos, mas nem sequer sabia que ela existia. Quando disse à minha mãe que ia trabalhar com ela para a Palestina já estás a imaginar… (risos). Na altura eu fazia parte de vários movimentos feministas e achava mesmo que ia mudar o mundo (risos). Fiquei lá um mês e gostei imenso de tudo, conectei-me e emocionei-me muito. Estive, também, em Belém e na Jordânia, onde trabalhei com Direitos Humanos e agricultura orgânica. Foram seis meses que me traumatizaram e mudaram a minha vida.

E Portugal? Como é que surge?

Depois do Médio Oriente voltei para o Brasil, mas não me encaixava lá. Então, como tinha a nacionalidade portuguesa por causa da minha avó, pensei “não quero saber, vou para Portugal”. Foi assim (risos). Zero planeado.

Tens algum momento que consideres o mais marcante da tua vida?

Acho que não consigo escolher um. Nesta fase, foi a criar a Mudatuga. Mas tenho muitos outros: quando me mudei para cá, viajar, escolher Biologia…

De que é que te arrependes?

De não ter saído definitivamente de São Paulo mais cedo. Quando saí a minha saúde mental já estava muito degradada. Eu nunca me senti bem naquela cidade, porque eu sempre fui uma pessoa de Natureza.

O que é ainda gostavas de fazer na tua vida?

Ir embora de Portugal, mas não já (risos). Quero viver noutro local, mas não sei qual ainda. Posso ir para o Cambodja ou Laos, não sei (risos).

Tu que já viajaste tanto, qual é o teu local preferido do mundo?

Horto Florestal de Campos de Jordão, uma cidadezita em São Paulo.

E a melhor cidade do mundo?

Belém.

Qual é o teu prato preferido?

Lasanha.

Qual é a tua palavra preferida?

Mudatuga (risos).

E o livro favorito?

A Desumanização, de Valter Hugo Mãe. Foi o único livro que me fez chorar.

Qual é a tua maior qualidade?

Sou teimosa.

E defeito?

Sou teimosa (risos).

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